*Rangel Alves da Costa
Também chorei a mesma lágrima do menino Zezé
quando cortaram seu pé de laranja lima. Era seu meu melhor amigo, seu bom
confidente, seu colo e seu acalanto. Ali ficção, porém tão real nos sentimentos
e na sensibilidade. Na realidade, aquela que desejamos preservar como alimento
d’alma, também os afetos e as relembranças que nos fazem saudosos, nostálgicos,
até silenciosos e entristecidos. É que muitos dos nossos pés de laranja lima já
se foram, já foram cortados de nossa presença. Já não tenho mais o cafuné da
minha avó, sua história de príncipe e princesa, seu bolo cheiroso e sua bolacha
de goma. Já não tenho mais o meu quintal de antigamente, minha ponta de vaca e
meu cavalo de pau. Já não tenho mais minha nudez criança, meu banho na chuva, a
goiaba buscada no pomar do vizinho. Lembro-me do primeiro verso e da primeira
flor deixada à janela, também da doçura do primeiro beijo. Ah, meu retrato.
Aquele menino sou eu. Aquele menino sou eu, e não este que agora dolorosamente
recolhe os restos entristecidos do pé de laranja lima.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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