*Rangel Alves da Costa
Sou apaixonado por café. Gosto dele forte,
encorpado, negro retinto, sem açúcar. A qualquer instante do dia,
principalmente no madrugar quando acordo, nada mais confortante que sentir o
seu sabor. Sou forçado, contudo, a beber café solúvel, em sachê, desses de
qualquer prateleira. O que me alenta, entretanto, é sempre sorvê-lo relembrando
de outro café, de outro gosto, de outro sabor. Recordo de um velho café coado
por uma velha mão, sertaneja, conterrânea e amiga. O galo ainda cantava quando
o pilão já ecoava sua batida. Era ela batendo o café para levar à chaleira em
fogão de lenha. Chaleira não, um verdadeiro caldeirão de tão grande, pois os
pedidos da vizinhança eram tantos que ela tinha de se esforçar para não ficar
sem o seu orgulho do amanhecer. Assim, batia o grão do café no pilão, depois
peneirava para despejar o pó já na água fervente. Então logo subia pelo ar uma
festança de aroma, inconfundível, oloroso, gostoso. Depois que a água olorosa e
negra subia de querer se derramar pelas beiradas, então ela tirava do fogão e
se punha a coar, já na boca do bule. O cheiro avisava que já estava pronto para
ser servido. À porta, gente batendo e pedindo para entrar, de xícara à mão, com
olho pidão. E ali mesmo começava a sorver a graça do amanhecer, tudo no café
batido em pilão e coado pela velha mão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário