*Rangel Alves da Costa
Sim, na minha infância havia um circo, um
palhaço, um trapezista... Na minha infância havia um circo, uma mulher barbada,
uma dançarina de pernas grossas, um mágico, um homem-fera, o homem soltando
fogo pela boca e pelas ventas... Na minha infância havia um circo, um circo
empobrecido, um circo de lona desgastada, um circo sem elefantes, tigres
siberianos ou globo da morte. Apenas um circo, envelhecido, desbotado, de
figuras pálidas e até um palhaço triste. Mas a coisa mais bela, mais linda,
mais esperada do mundo, pois um circo. “Respeitável público!...”. Depois do
entardecer, o serviço de som começava a tocar O Milionário, com Os Incríveis,
anunciando que naquela noite haveria espetáculo. Logo o cheiro de pipoca, a
maçã do amor, a tábua de balas e pirulitos. Ingresso pela metade, pois criança.
Não pagava se acompanhada dos pais. Depois que os tambores rufavam, a cortina
se abria e entrava o apresentador: “Vocês querem espetáculo, vocês querem
alegria?”. Então logo vinha o palhaço, depois a dançarina, depois mais uma e
mais outra atração, até a grande surpresa da noite: a moça que some! Colocavam
sobre ela uma grande coberta e depois de algumas palavras mágicas ela sumia.
Mas naquela noite não sumiu. Quando foi correr para se esconder, a coberta
enganchou no sapato e o segredo foi descoberto. Ela chorou três dias. Mas toda
a plateia gargalhou da trapalhada.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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