*Rangel Alves da Costa
Entardecer. Anoitecer. Horizonte de fogo. Sol
abrasado. Cinzas afogueadas do dia. No limiar da luz e das sombras, apenas os
olhos testemunhando as transformações. E também o coração pulsando saudades,
memórias e relembranças. Tudo parece distante. E está. A ventania canta sua
última valsa, enquanto a brisa noturna avança com sua suave canção. A lua
desponta singela, sublime, quase inocente. Mas logo se faz imensa, pulsante, inebriante.
Olhos e corações já não suportam as saudades. A janela é fechada. Tudo aparenta
quietude, mas do silêncio chegam outros silêncios. E estes ferozes, vorazes,
gritantes. Não há silêncio na vela acesa: o clamor. Não há silêncio na
semiescuridão: o pulsar. Não há silêncio no coração: o grito. Não há silêncio
na voz: o brado silencioso. E entre silêncios pede e clamor, roga e implora,
diz que venha, diz que precisa amar. Mas apenas os silêncios molhados,
sussurrados, angustiantes. Então o gotejar do vinho se derramando no copo
quebra todos os silêncios. Até que a voz descortina a palavra: Deus, meu Deus,
por que me abandonaste?!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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