SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 8 de maio de 2010

NA IGREJA DA MINHA RUA

NA IGREJA DA MINHA RUA

Rangel Alves da Costa*


No trecho seguinte da rua onde moro tem uma igreja, uma capela em louvor a São João Batista. É um templo simples, porém majestoso aos olhos dos que têm fé. Pois bem. Nesta noite de sexta-feira resolvi caminhar um pouco pela rua, andar por uns três, quatro trechos, simplesmente andar de bermuda e havaiana e dar boa noite às pessoas nas calçadas.
É isso mesmo, aqui onde moro, em plena capital sergipana, até próximo às dez horas da noite, já pertinho de fechar as portas para adormecer, as pessoas ainda colocam suas cadeiras nas calçadas, onde vão se juntando outros vizinhos, para colocar as informações em ordem, falar da vida alheia, ver quem passa e cochicharem aos ouvidos. Que prática milenar é essa de ficar olhando a vida dos outros! Mas é assim mesmo, as pessoas já sabem o que as velhinhas gostam de fazer ao anoitecer e nem se importam. Eu mesmo nunca me importei, vou passando, dando boa noite e seguindo em frente.
Sim, ia esquecendo. Saindo hoje à noite para caminhar, ao passar em frente à igreja percebi as largas portas abertas, as luzes acesas e, ao me aproximar um pouco mais do muro da entrada, percebi lá dentro, bem ao fundo e um pouco mais adiante do altar, um grupo de senhoras reunido em círculo lendo passagens bíblicas e entoando cânticos. Algumas eram pessoas conhecidas das redondezas, que naquela hora bem poderiam estar nas suas calçadas. Mas não, estavam ali ouvindo a palavra de Deus, como disseram.
Ultrapassei o muro e fiquei por um instante ao lado do portão, em pé, observando os encantos que todo interior de igreja possui: a grandeza do templo (mesmo que pequenino) que repassa um estado de paz espiritual, as imagens tristes nos seus pedestais, o cristo enorme na cruz, bem ao fundo do altar, o próprio altar com os seus instrumentos e mistérios, a distância do teto parecendo querer levar ao céu, a paz, a grandeza da fé, a religiosidade, a crença, a esperança e a desesperança, tudo ali, maravilhosamente visível na igreja da minha rua.
Em pé ao lado da grande porta, absorvido por todo aquele encantamento e já com o espírito mais fortalecido só por estar ali, fui percebido por uma das senhoras que estava no grupo de oração e que logo avisou às outras sobre a minha presença, e assim começaram a acenar para que eu entrasse, que fosse até lá onde elas estavam e passasse a fazer parte daquele encontro. Acenei que não podia, pois estava de bermuda e elas começaram a falar que não havia nenhum problema com a minha roupa, que eu podia entrar assim mesmo.
Resolvi entrar, mas pedi que me deixasse ficar num dos bancos próximos à entrada, sentado solitariamente (como se alguém ficasse solitário em uma igreja, mesmo com ela vazia) vez que desejava ficar ali apenas por um breve instante e que naquele momento eu pudesse ficar refletindo unicamente com os meus pensamentos e a minha fé.
E assim sentei e fiquei observando mais de perto aquilo tudo, como se os meus olhos propositadamente esquecesse outras visões para se voltarem somente para o sagrado, para os anjos à minha volta, para o paraíso na minha mente, para os santos, para o céu maravilhoso, para os passos, os sofrimentos, as dores e a ressurreição de Jesus, para Deus, para Deus... E como vinha aos meus olhos aquela luz que era Deus!!!
Mesmo um pouco distante, pela lente dos meus óculos invisíveis e o meu olhar molhado, enxergava e me aproximava mais e mais daquela imagem de braços abertos estendida na cruz e encontrava a resposta para o que eu era naquele momento: um Cristo feliz pela certeza de que mesmo todo o sofrimento, porém jamais abandonando nem abandonado pela fé em Deus, é transformado em glória!



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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