O ALTAR DO PERFUME
Rangel Alves da Costa*
A Bíblia, ao tratar da fragrância exalada pelo incenso, diz que sua fumaça se levanta no altar do perfume: "Ora, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote, na ordem da sua classe, coube-lhe por sorte, segundo o costume em uso entre os sacerdotes, entrar no santuário do Senhor e aí oferecer o incenso. Todo o povo estava de fora, à hora da oferenda do incenso. Apareceu-lhe então um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do perfume" (Lc, 8,11). No altar do perfume, pela manhã e à noite se queimavam perfumes sagrados. E tais perfumes eram incensos, agradando os ambientes sagrados e fazendo da sua fumaça uma comunicação com o divino.
Em outras passagens bíblicas é possível se observar o exalar desse perfume, tanto em oblações (oferendas), como em outros sacrifícios e em ritualizações, com o incenso sendo queimado nas cerimônias de adoração a Deus, pois a sua fumaça perfumada subia aos céus para o agrado e reconhecimento do amor pela divindade dos povos na terra. Consubstanciava-se, no incenso, a pureza dos elementos e que era o própria purificação divina.
"Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra" (Mt, 2,11), "Azeite de lâmpada, bálsamo para o óleo de unção e para o incenso aromático" (Ex, 25,6), “Farás também de madeira de acácia um altar para queimar incenso" (Ex, 30,1), "Sobre ele Aarão queimará incenso aromático, todas as manhãs, ao preparar as lâmpadas" (Ex, 30,7), "E ao por do sol, quando as acender. Assim será queimado o incenso diante do Senhor perpetuamente, por todas as gerações" (Ex, 30,8), "A mesa com todos os apetrechos, o candelabro com os utensílios, o altar do incenso" (Ex, 30,27), " O Senhor disse a Moisés: “Arranja essências aromáticas: resina, âmbar, gálbano aromático e incenso puro em partes iguais" (Ex, 30,34), " Prepararás um incenso perfumado, composto segundo a arte da perfumaria, bem dosado, puro e santo" (Ex, 30,35), " o altar do incenso e seus varais; o óleo de unção e o incenso aromático; a cortina da porta de entrada da morada" (Ex, 35,15), "E queimou sobre ele o incenso aromático, assim como o Senhor havia ordenado a Moisés" (Ex, 40,27), "Dela o sacerdote queimará como memorial uma parte dos grãos moídos e do azeite, além de todo o incenso. É uma oferta queimada para o Senhor" (Lev, 2,16).
Tenho uma igreja em minha vida e todos os dias ritualizo minha fé também através da queima de incensos. Primeiro no altar da minha inabalável fé em Deus, que é no coração, e depois no altar onde tenho a minha a Bíblia, o meu oratório antigo e os mistérios da crença que estão por ali espalhados.
Num incensário bonito, verdadeiro turíbulo, novo mas parecendo uma peça muito antiga representando uma torre, feito de metal de um amarelo envelhecido, com motivos bonitos ornados à mão, faço a madeira de jasmim, mirra, sândalo, manjericão, madeira do oriente e outros aromas, entrar em combustão e quando a ponta está em brasa coloco dentro desse ojeto litúrgico e recubro novamente, para em seguida ficar mirando por alguns instantes a fumaça que vai saindo pelas aberturas e se espalhando pelo ar para ir ao encontro de Deus, e dizer sempre da minha fé e do meu eterno amor.
E como é bom ver e sentir aquela fumaça envolvendo o ambiente, criando uma força mística, dando um novo sentido ao espírito, fazendo respirar no perfume que se exala a paz, a leveza da alma e um misterioso encontro com mistérios divinos. Muitas vezes é como se viajasse pelos templos antigos e seus rituais, pelos corredores e salões dos monastérios e abadias, ao redor das pesadas mesas com religiosos escrevendo letra por letra a religiosidade do mundo, tendo sempre ao lado uma vela acesa e incensos queimando.
O incenso, disposto diariamente no meu altar perfumado, não objetiva somente o meio para transportar no fumo que vai se alastrando os desejos, pensamentos, orações e mensagens para o mundo celestial, para relaxar, embriagar o espírito de paz, purificar o ambiente e a alma. Não. Vejo no ritual do incenso mistérios que aproximam da divindade, no seu perfume o contato com o divino e no ambiente purificado que se forma ao redor a igreja que tanto preciso para continuar manifestando minha fé em Deus.
Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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