TRÊS CAMINHOS
Rangel Alves da Costa*
Com o alforje de caçador nas costas, o homem caminhava pela longa e pedregosa estrada, sem poder se cansar porque tinha pressa e uma dura jornada ainda pela frente.
Aquele ainda era somente parte do caminho, antes de chegar numa encruzilhada e encontrar mais duas estradas opostas e ter que seguir pela via à esquerda. Foi assim que lhe ensinaram quando perguntou, logo de manhãzinha, onde poderia encontrar uma igreja, por mais pequena que fosse, para pagar uma promessa. Tinha fome e sede e tinha também pressa de encontrar uma porta aberta que lhe desse um caneco de água e alguma coisa para enganar a fome.
Caminhou mais uma légua e mais de perto avistou o que queria: as duas estradas que davam para caminhos opostos, porém notou que aquela por onde seguia não terminava ali, como haviam informado. Agora, na verdade, eram três estradas: à direita, quase uma vereda aberta no meio do mato; à esquerda, um estreito e curvo percurso; adiante, dando sequencia à estrada onde estava, via que era o mesmo caminho seguro que já vinha percorrendo.
Parou exatamente num lugar onde qualquer daquelas estradas poderia ser seguida. Olhou para todos os lados, pensou e repensou por onde deveria seguir. Cheio de dúvidas, colocou o alforje no chão e sentou. Não demorou muito, colocou a cabeça em cima do saco de viagem e dormiu. Sonhou com as três estradas, e caminhou por todas elas, mas não chegou ao final de nenhuma. E assim anoiteceu, com o homem pesadamente dormindo entre três estradas. Tinha fome e sede. E o pior é que tinha uma promessa que não poderia deixar de ser cumprida antes do levantar do sol.
No meio da noite acordou sobressaltado. Ouvia um sino de igreja badalar nas proximidades. Pegou rapidamente o alforje e caminhou naquela direção. Quanto mais andava mais ouvia o sino tocar próximo, porém nada de encontrar o local de onde vinha aquele som. No negrume que fazia, fazendo de tudo para enxergar algum sinal da igreja, o que encontrou foi somente um homem desesperadamente caminhando, suado, feições angustiadas, com aspecto de desespero.
Meio desconfiado, perguntou ao homem porque estava assim e ele respondeu que tinha fome e sede e pressa de chegar a qualquer igrejinha que encontrasse para pagar uma promessa com urgência, antes do amanhecer. O desconhecido perguntou se ele sabia onde pudesse encontrar tal igreja e ouviu que o mesmo se encontrava por ali meio perdido com o mesmo objetivo.
Resolveram unir as forças e as preocupações e procurarem juntos a tal igreja. Encontraram somente outro homem que caminhava apressado, parecendo meio desnorteado e perguntaram pela igreja e ele também respondeu que não havia igreja alguma, que aquele som estava apenas na cabeça de quem desesperadamente quer encontrá-la. Há dois dias que não comia e quase não bebia nada procurando a tal igreja e ela nada de aparecer. O pior é que ficam enganando, dizendo que existe e que está por ali. Mas cadê? Por que não se ouve um tocar de sinos, algum sinal verdadeiro?
Os três se encontravam exatamente no ponto em que as três estradas poderiam ser seguidas, em pé, sem saberem mais o que fazer naquela escuridão. De repente ouviram um tocar de sinos de igreja bem próximo e se alegraram. E o sino continuou tocando. Vamos lá, é por ali, disse um; não, é por aquela estrada, disse outro; nenhuma nem outra, pois é por ali, disse ainda o outro. E cada um saiu correndo em direções opostas. Correram e correram e acabaram se encontrando no mesmo lugar, sem encontrar igreja alguma.
E agora, o que vamos fazer? Perguntou um. Nada, somente esperar o dia amanhecer para ir embora, sem pagar a promessa, disse outro. Nada disso, já que estamos aqui temos que pagar as nossas promessas, disse o último. Qual foi a promessa de vocês?
A minha foi pra chover; a minha foi pra construir uma moradia; a minha foi pra arrumar uma namorada bonita. Depois concluíram que nada disso foi conseguido. Mas ora, se não conseguimos as graças, por que estamos aqui para pagar promessas? Perguntou um entristecido.
Deve ser porque temos muita fé em conseguir isso tudo, e por isso mesmo é que resolvemos pagar antecipadamente as promessas, disse outro.
Não, isso tudo foi pra mostrar que por aqui não há igreja nenhuma. E para que a gente tenha mais fé e seja cada vez mais abençoado é que temos que construir uma, com um sino bem bonito para tocar de verdade. Foi o que outro concluiu.
E voltaram para construir uma igrejinha bem ali, onde começavam os três caminhos. E depois cada um prosseguiu por uma estrada, com a certeza do dever cumprido e com a fé aumentada de que conseguiria tudo o que quisesse na vida, porque agora havia uma igreja para pagar suas promessas.
Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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