*Rangel Alves da
Costa
Minha
terra não tem palmeira onde canta o sabiá, mas tem craibeira florida de o olho
se admirar. Tem mandacaru e sua flor, tem paisagens de encantar.
Minha
terra é no mundo o que chamam sertão, mas parece mais um santuário para o
sertanejo de fé e devoção, no olhar a esperança e a fé no coração.
Minha
terra é diferente de outras terras que há, pois quem pisa no seu chão ou fica
ou quer retornar. E faz da vereda sua estrada e faz do sertão o seu lar.
Minha terra
sente fome, tem gente que nem tem nome, e a tudo a dor consome. A pobreza é
sobrenome da miséria que carcome e não há política que dome.
Minha
terra é humilde, é pacata e singela. É como fogão e panela, se contentando
somente no alimento que há nela, para fugir da fome que toda seca flagela.
Minha
terra também chora a lágrima de todo sofrer, e sofre pelas mazelas que provocam
padecer, muito mais se o sertanejo se curva à dor sem nada merecer.
Minha
terra tem um riacho que tinha um poço redondo, e poço de matar a sede do gado
se decompondo, na magreza da estiagem e sem do trovão o estrondo.
Minha
terra tem um nome que assim nasceu desse poço, num tempo ainda moço, numa vida
sem ter pressa, num viver sem alvoroço, como se a escrita matuta fosse fazendo
um esboço.
Minha
terra vem de longe, de um passado distante, quando tudo era caatinga e ainda
sem retirante, sem casebre ou curral, sem o vaqueiro e o seu berrante, sem
caminho ou estrada, apenas o rio adiante.
Minha
terra é vastidão, sertão de fronteira com muito mais sertão, beirando rio e
serra, cortando estradão, da Bahia a Alagoas, em Sergipe e região, do alto da
Serra da Guia ao Angico de Lampião.
Minha
terra tem um livro e nele a sua história, mas muito mais na vivência dos que
fizeram sua glória, e dessa junção de vidas é que se faz a memória. Quem faz
parte desse livro tem na luta a sua trajetória.
Minha
terra é beiradeira, é quilombola, é vaqueira, é de cavalhada matuta e de luta
cangaceira. É da cantiga de aboio, é da velha lavadeira, é da mão rude da
fateira e da cuidadosa parteira.
Minha
terra é abençoada pela mãe de todo sertão, que é mãe maior Senhora da
Conceição, luz de toda Assunção, que do alto cuida do berço do seu filho em
devoção, abençoando o sertanejo e velando por este chão.
Minha terra
é Poço Redondo, também o chão ribeirinho, de onde tudo nasceu nas margens de
Curralinho. Ao lado o Bonsucesso fazendo do rio caminho, seguindo por Jacaré e
Cajueiro e cada pedaço vizinho.
Minha
terra tem dois poços, um de baixo e um de cima, quem está na cidade pouco do
alto imagina, sequer sabe que dali vem toda raiz e sina, que tudo ali do alto
da história se aproxima, desde a capela ao cemitério ao passado e o que ele ensina.
Minha
terra tem matriz e nela o seu vigário, um anjo e seu rosário, uma benção em
Padre Mário. De Deus o missionário, no sertão seu templo e santuário, pregando
a fé e esperança, a grandeza da vida como maior fadário.
Minha
terra tem retrato que vive na parede. Toda saudade aflige como sede. E não há
pensamento que não enverede na lágrima que logo sucede. Chorar os que partiram
antes que o peito quede e em soluço e pranto ao sofrer se entregue.
Minha
terra é minha. Todinha. Ou é toda sua, com o sol e a lua. Mas uma coisa digo e
a ninguém escondo: meu chão, minha terra, é Poço Redondo!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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