*Rangel Alves da Costa
Todo santo dia comadre Tonha ultrapassa a
porta da cozinha para lavar roupa no quintal. Possui uma pia grande de cimento,
aonde uma torneira vai jorrando a água que tanto precisa para limpar a roupa da
família e panos de cama e prato. Prefere a lavagem logo cedinho, antes que o
sol desça calorento e abrasador. Então ensaboa, esfrega, bate, enxagua, para
depois estender tudo no varal adiante. Quando o dia é de ventania, não demora
muito e tudo já está sequinho e pronto ao recolhimento. Passar ferro é outro
trabalho danado, mas não há jeito a fazer. Sem dinheiro para empregada ou pagar
lavadeira, tem mesmo é que sacrificar na luta de todo dia. Mas já avisou que
roupa de baixo não lava de ninguém, pois cada um que cuide de suas cuecas e
calcinhas. Só mesmo seus calçolões e ceroulas do marido. Por vezes, quando
amanhece alegre, cada lavagem é acompanhada de uma velha canção, de melodia
relembrando a vida em flor. Mas noutros dias, quando amanhece entristecida ou
mesmo preocupada com alguma coisa, quanto mais lava mais lacrimeja em cima da roupa.
Ou mesmo fala sozinha, pronunciando palavras desconexas, mas que sempre remetem
a um rogo para que Deus estenda os seus no varal da salvação.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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