*Rangel Alves da
Costa
Neste
período eleitoral, de nomes já escolhidos, de candidaturas lançadas, de
coligações e slogans, de repentinas uniões amorosas e súbitas e ferrenhas inimizades,
nas redes sociais avultam as paixões, as tendências, as “lavagens de roupas
sujas” e verdadeiras pérolas extraídas dos anseios populares. Despontam os
momentos ideais para que os eleitores se fanatizem de vez ou façam de Geni cada
candidato opositor. Flores e aplausos a uns, pedras e pontapés em outros. Assim
a costumeira cultura eleitoral, sempre pautada pelos ódios exacerbados e os
amores exagerados.
Como as
propagandas já estão permitidas nas redes sociais e por toda a mídia virtual e
além, então surgem as mesmices e os achados estrambólicos. Um candidato se
autodenomina o mais honesto do mundo. Ora, mas outro político não havia dito o
mesmo e está em vias de ser provado o contrário? Outro candidato se diz amigo
do povo, como se antes nutrisse um certo desdém. E tantos outros se afirmando
competentes, incorruptíveis, compromissados demais em fazer o que somente
caberia a um prefeito eleito. E assim por que há candidato que vai tomar conta
de hospital, cuidar da infraestrutura municipal, não deixar faltar nada à
população.
Os slogans
dos candidatos a prefeito e vice, na grande maioria, não expressam efetivamente
nada além de quaisquer palavras, que mais tarde se tornarão em letras mortas.
Há um tal de compromisso com o povo que mais parece brincadeira com o
entendimento do humilde leitor. Há também um tal de trabalho e desenvolvimento
que mais parece o poder infinito da transformação. Coisas que acabam cansando e
até enojando os eleitores mais experientes, vez que acostumados a tais
compromissos e promessas e pouco ou quase nada resultar em realidade.
Com
relação ao momento eleitoral, uma postagem numa rede social sintetiza a
aproximação do candidato perante o eleitor, principalmente aquele
economicamente mais desfavorecido, assim expressada: Começou a caça ao pobre. Abraça
o pobre, beija o pobre, acaricia o pobre, ouve o pobre, promete ao pobre, e até
inventa um passado de pobreza igual, mas depois ganha a eleição e esquece o
pobre. Quer dizer, o político sempre procura fazer do pobre sua riqueza
eleitoral. E depois esquece mesmo, pois assim sempre acontece. E quatro anos
depois...
Noutra
postagem, alguém escreveu: Um verdadeiro milagre aconteceu. Depois de quatro
anos, pois desaparecido desde que foi eleito vereador há quatro anos, sem que
sequer a família e amigos soubessem do seu paradeiro, eis que agora reapareceu
e novamente se apresentando como candidato. O sumido agora não faz outra coisa
senão abraçar todo mundo, prometer mundos e fundos, e dizer que o trabalho deve
continuar. Tem gente que tem até medo, pensando ser um fantasma reaparecido
depois de tanto tempo.
Há mesmo
quem relacione os candidatos de agora, mas já em cumprimento de mandato, com os
pokemóns go. E dizem que os tais monstrinhos escondidos já existiam no Brasil
antes mesmo da chegada do jogo. Viviam camuflados nas câmaras de vereadores,
nas assembleias, nas altas câmaras, nas prefeituras. Por isso que ninguém os
encontrava de jeito nenhum. Sendo preciso surgir o jogo da disputa eleitoral
para que fossem caçados para prestar contas das gestões em troca do voto. O
problema é que tem monstrinho que nem precisa ser caçado, pois de repente
aparece na frente do eleitor com um sorriso descomunal. Denominam este de
poke-cínico.
É um tempo
também de guerras, guerrilhas, falsidades e armadilhas. Um tempo de fanatismos
e armas à mão e na língua. As cidades interioranas, em pé de guerra, se tornam
tão divididas e entrincheiradas que mais parecem campos de batalhas. Famílias
brigam entre si, velhos amigos se tornam inimigos, os partidários dos
candidatos logo cuidam de enlamear todos os adeptos dos outros agrupamentos
políticos. Assim mesmo, pois basta declarar o voto a um e os eleitores do outro
- senão os próprios candidatos - começam a achincalhar e a difamar desde as
gerações passadas. Quer dizer, só presta quem votar no seu candidato. Do
contrário, será chamado de traíra, de safado, de calhorda, e assim por diante.
Por isso mesmo que de vez em quando um puxa a arma e revida a desdita na bala.
Um tempo
também demasiadamente propício aos puxa-saquismos, às bajulações. Quanto mais
um candidato se mostrar com força de ser eleito mais aumentam as paparicagens e
adulações. Tudo, logicamente, na esperança de emprego futuro. Ou mesmo para
manter o cargo comissionado que já possui na prefeitura. Daí as paixões, as
bandeiras erguidas, as brigas com os oponentes, as defesas arrebatadas. É quase
como se daquela eleição e da vitória do candidato dependesse a própria vida.
Esquecem a panela no fogo e vão para esquina brigar, deixam de lado o ganha-pão
de cada dia para ir atrás de um comício ou de carreata.
Mas o
difícil de explicar é o seguinte: Por que não se passam nem três meses da
eleição e todo mundo já está falando mal do eleito? Ou ainda: Por que no pleito
seguinte todo mundo volta a se apaixonar novamente?
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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