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segunda-feira, 29 de agosto de 2016

ELEIÇÕES: OS ÓDIOS E OS AMORES


*Rangel Alves da Costa


Neste período eleitoral, de nomes já escolhidos, de candidaturas lançadas, de coligações e slogans, de repentinas uniões amorosas e súbitas e ferrenhas inimizades, nas redes sociais avultam as paixões, as tendências, as “lavagens de roupas sujas” e verdadeiras pérolas extraídas dos anseios populares. Despontam os momentos ideais para que os eleitores se fanatizem de vez ou façam de Geni cada candidato opositor. Flores e aplausos a uns, pedras e pontapés em outros. Assim a costumeira cultura eleitoral, sempre pautada pelos ódios exacerbados e os amores exagerados.
Como as propagandas já estão permitidas nas redes sociais e por toda a mídia virtual e além, então surgem as mesmices e os achados estrambólicos. Um candidato se autodenomina o mais honesto do mundo. Ora, mas outro político não havia dito o mesmo e está em vias de ser provado o contrário? Outro candidato se diz amigo do povo, como se antes nutrisse um certo desdém. E tantos outros se afirmando competentes, incorruptíveis, compromissados demais em fazer o que somente caberia a um prefeito eleito. E assim por que há candidato que vai tomar conta de hospital, cuidar da infraestrutura municipal, não deixar faltar nada à população.
Os slogans dos candidatos a prefeito e vice, na grande maioria, não expressam efetivamente nada além de quaisquer palavras, que mais tarde se tornarão em letras mortas. Há um tal de compromisso com o povo que mais parece brincadeira com o entendimento do humilde leitor. Há também um tal de trabalho e desenvolvimento que mais parece o poder infinito da transformação. Coisas que acabam cansando e até enojando os eleitores mais experientes, vez que acostumados a tais compromissos e promessas e pouco ou quase nada resultar em realidade.
Com relação ao momento eleitoral, uma postagem numa rede social sintetiza a aproximação do candidato perante o eleitor, principalmente aquele economicamente mais desfavorecido, assim expressada: Começou a caça ao pobre. Abraça o pobre, beija o pobre, acaricia o pobre, ouve o pobre, promete ao pobre, e até inventa um passado de pobreza igual, mas depois ganha a eleição e esquece o pobre. Quer dizer, o político sempre procura fazer do pobre sua riqueza eleitoral. E depois esquece mesmo, pois assim sempre acontece. E quatro anos depois...
Noutra postagem, alguém escreveu: Um verdadeiro milagre aconteceu. Depois de quatro anos, pois desaparecido desde que foi eleito vereador há quatro anos, sem que sequer a família e amigos soubessem do seu paradeiro, eis que agora reapareceu e novamente se apresentando como candidato. O sumido agora não faz outra coisa senão abraçar todo mundo, prometer mundos e fundos, e dizer que o trabalho deve continuar. Tem gente que tem até medo, pensando ser um fantasma reaparecido depois de tanto tempo.
Há mesmo quem relacione os candidatos de agora, mas já em cumprimento de mandato, com os pokemóns go. E dizem que os tais monstrinhos escondidos já existiam no Brasil antes mesmo da chegada do jogo. Viviam camuflados nas câmaras de vereadores, nas assembleias, nas altas câmaras, nas prefeituras. Por isso que ninguém os encontrava de jeito nenhum. Sendo preciso surgir o jogo da disputa eleitoral para que fossem caçados para prestar contas das gestões em troca do voto. O problema é que tem monstrinho que nem precisa ser caçado, pois de repente aparece na frente do eleitor com um sorriso descomunal. Denominam este de poke-cínico.
É um tempo também de guerras, guerrilhas, falsidades e armadilhas. Um tempo de fanatismos e armas à mão e na língua. As cidades interioranas, em pé de guerra, se tornam tão divididas e entrincheiradas que mais parecem campos de batalhas. Famílias brigam entre si, velhos amigos se tornam inimigos, os partidários dos candidatos logo cuidam de enlamear todos os adeptos dos outros agrupamentos políticos. Assim mesmo, pois basta declarar o voto a um e os eleitores do outro - senão os próprios candidatos - começam a achincalhar e a difamar desde as gerações passadas. Quer dizer, só presta quem votar no seu candidato. Do contrário, será chamado de traíra, de safado, de calhorda, e assim por diante. Por isso mesmo que de vez em quando um puxa a arma e revida a desdita na bala.
Um tempo também demasiadamente propício aos puxa-saquismos, às bajulações. Quanto mais um candidato se mostrar com força de ser eleito mais aumentam as paparicagens e adulações. Tudo, logicamente, na esperança de emprego futuro. Ou mesmo para manter o cargo comissionado que já possui na prefeitura. Daí as paixões, as bandeiras erguidas, as brigas com os oponentes, as defesas arrebatadas. É quase como se daquela eleição e da vitória do candidato dependesse a própria vida. Esquecem a panela no fogo e vão para esquina brigar, deixam de lado o ganha-pão de cada dia para ir atrás de um comício ou de carreata.
Mas o difícil de explicar é o seguinte: Por que não se passam nem três meses da eleição e todo mundo já está falando mal do eleito? Ou ainda: Por que no pleito seguinte todo mundo volta a se apaixonar novamente?


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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