*Rangel Alves da Costa
Quem escreve sabe muito bem sobre o que estou
falando. Nada mais doloroso ao escritor - qualquer escritor, principalmente
aquele cujas obras nunca são publicadas - do que relegar às traças e ao
esquecimento toda ou grande parte de sua construção literária. Ora, num país
onde não se valoriza a cultura e a publicação de um livro se torna como um
trabalho de Hércules, então surge uma difícil decisão a ser tomada pelo
escrevinhador: ou deixa de escrever ou escreve para si mesmo, ou ainda para um
reduzidíssimo número de leitores nos sites de publicações literárias. Como a
escrita é dom, é arte, é propensão espiritual, a pessoa nunca quer sufocar suas
inspiração e palavras. E assim vai escrevendo, criando tramas, personagens,
destinos e sinas, conjugando criatividade, arte e inteligência na construção de
histórias possíveis. Trabalho longo, até exaustivo, mas sempre prazeroso.
Contudo, para depois deixar na gaveta, nos esquecidos dos armários, tendo o
tempo e as traças como únicos apreciadores. E devoram tudo em pouco tempo. E na
morte da folha, as cinzas de toda uma criação, com palavras que se despedem
chorando e personagens que se vão sem saber sequer porque nasceram para vida
tão efêmera. O desejo maior do escritor é sempre eternizar sua arte, mas então
chegam os órgãos culturais e possíveis patrocinadores para dizerem sempre não.
Estes agem sempre como as primeiras traças que avançam sobre os escritos,
negando vida, impossibilitando o conhecimento. Mas novamente se põe o escritor
no seu ofício de criar para o seu íntimo eterno. E se imortalizar em si mesmo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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