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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Palavra Solta - os escritos, as traças e as palavras que choram


*Rangel Alves da Costa


Quem escreve sabe muito bem sobre o que estou falando. Nada mais doloroso ao escritor - qualquer escritor, principalmente aquele cujas obras nunca são publicadas - do que relegar às traças e ao esquecimento toda ou grande parte de sua construção literária. Ora, num país onde não se valoriza a cultura e a publicação de um livro se torna como um trabalho de Hércules, então surge uma difícil decisão a ser tomada pelo escrevinhador: ou deixa de escrever ou escreve para si mesmo, ou ainda para um reduzidíssimo número de leitores nos sites de publicações literárias. Como a escrita é dom, é arte, é propensão espiritual, a pessoa nunca quer sufocar suas inspiração e palavras. E assim vai escrevendo, criando tramas, personagens, destinos e sinas, conjugando criatividade, arte e inteligência na construção de histórias possíveis. Trabalho longo, até exaustivo, mas sempre prazeroso. Contudo, para depois deixar na gaveta, nos esquecidos dos armários, tendo o tempo e as traças como únicos apreciadores. E devoram tudo em pouco tempo. E na morte da folha, as cinzas de toda uma criação, com palavras que se despedem chorando e personagens que se vão sem saber sequer porque nasceram para vida tão efêmera. O desejo maior do escritor é sempre eternizar sua arte, mas então chegam os órgãos culturais e possíveis patrocinadores para dizerem sempre não. Estes agem sempre como as primeiras traças que avançam sobre os escritos, negando vida, impossibilitando o conhecimento. Mas novamente se põe o escritor no seu ofício de criar para o seu íntimo eterno. E se imortalizar em si mesmo.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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