*Rangel Alves da Costa
As mesmices do dia são levadas pela ventania
do entardecer. As horas estafantes, as correrias desenfreadas, o vai e vem
cansativo, tudo se transforma em folha de vento, em folha levada quando o chega
o entardecer. Lá no horizonte os primeiros sinais: o sol já segue seu caminho
de adeus, de despedida. Contudo, antes da partida, ainda no seu rastro, aquele
fogo, aquela cor enferrujada, aquele alaranjado vívido, aquela chama que
esvoaça pelos espaços. Eis a paisagem encontrada quando o sol está indo embora.
Daí em diante, a magia da transformação sentimental, espiritual, invadindo todo
o ser. A música clássica, o sopro da brisa, a relembrança, a recordação, as
nostalgias tristonhas e doces que sempre chegam em instantes assim. Lá fora e
ao longe a canção dos coqueirais, das águas açoitando no cais, da última
revoada que sempre passa. No coração, um lápis, um papel, uma poesia, No olhar,
o verso trazido pela natureza, pela fotografia do instante, pelo pôr do sol e
pelo avistar da lua. E no cálice o vinho se derrama lento. Na boca o lábio
trêmulo. No coração um pulsar diferente. Resta acender a vela, o incenso, a
noite.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário