SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 27 de agosto de 2016

Palavra Solta – no quarto escuro


Rangel Alves da Costa*


O quarto está sempre no escuro, mas não sei por que ele é avistado sempre assim escurecido. Dizem que nele mora a solidão, a tristeza, a dor, a angústia, a aflição, o pesar dos dias e das noites. Creio que não tudo isso, mas também não muito distante disso, pois tenho conhecimento que ali é o quarto de uma pessoa solitária, muito solitária. Então fico imaginando a solidão sem acender a luz, a solidão na escuridão da noite, a solidão madrugada adentro. Tudo escurecido. Talvez os olhos entristecidos avistem o mundo através das frestas da janela, compreendendo o mundo lá fora como uma sombra sem fim. Certamente chora, sofre, padece, escrevendo poemas dilacerantes pelas vagas escurecidas, beijando impossíveis bocas, tateando e acariciando corpos inexistentes. Talvez além da janela fechada exista um jardim, uma fonte cristalina, um ninho de passarinho. E também um sol que brilha e uma flor que viceja na primavera. Mas sempre outono, outono, outono. E de folha morta pelo chão molhado de lágrimas.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com 

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