Rangel Alves da Costa*
O quarto está sempre no escuro, mas não sei
por que ele é avistado sempre assim escurecido. Dizem que nele mora a solidão,
a tristeza, a dor, a angústia, a aflição, o pesar dos dias e das noites. Creio
que não tudo isso, mas também não muito distante disso, pois tenho conhecimento
que ali é o quarto de uma pessoa solitária, muito solitária. Então fico
imaginando a solidão sem acender a luz, a solidão na escuridão da noite, a
solidão madrugada adentro. Tudo escurecido. Talvez os olhos entristecidos
avistem o mundo através das frestas da janela, compreendendo o mundo lá fora
como uma sombra sem fim. Certamente chora, sofre, padece, escrevendo poemas
dilacerantes pelas vagas escurecidas, beijando impossíveis bocas, tateando e acariciando
corpos inexistentes. Talvez além da janela fechada exista um jardim, uma fonte
cristalina, um ninho de passarinho. E também um sol que brilha e uma flor que
viceja na primavera. Mas sempre outono, outono, outono. E de folha morta pelo
chão molhado de lágrimas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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