*Rangel Alves da Costa
Ontem à noite, com a grandeza e suntuosidade
do cerimonial de abertura dos Olímpicos, o Brasil mais uma vez se colocou na
posição que mais gosta de estar: no mundo da ilusão. Tudo muito bonito, bem
organizado, fulgurante e resplandecente. Os telespectadores de outros países
certamente ficaram maravilhados, verdadeiramente encantados com as belezas
apresentadas. Não sabiam, contudo, que além e pelos arredores do Maracanã, em
cada lugarejo e pelo país inteiro, o cerimonial da vida é bem diferente. O
samba é outro, o fogo da tocha é outro, o desfile é totalmente diferente. Há um
rebolado sem fim para se viver, há um queimor na alma e uma labareda no peito
para se viver, há um desfile de filas em postos de saúde, hospitais, para
matricular filhos, para prestar ocorrências policiais. Ontem foi o país da
ilusão, da mentira, vendendo uma imagem que verdadeiramente não temos.
Esconde-se para o gringo e o escandinavo, mas não pode esconder para João,
Maria, José. A realidade brasileira não é olímpica, mas titânica, não é de
confraternização e congraçamento, mas com cada um lutando consigo mesmo para o
pão do dia e do amanhã. O que eles têm como tiro ao alvo, temos nas balas
perdidas; o que eles têm como ginástica olímpica, temos nos corpos que se
curvam nos lixões e pelas calçadas catando restos; o que eles têm como esporte,
temos como luta incessante para sobreviver. Mas assim mesmo. Eles chegam, se
encantam, levam ouro, prata, bronze. E permanecemos no ferro e na ferrugem.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário