*Rangel Alves da
Costa
O sertão
pode estar seco como for, tudo esturricando mesmo, mas basta chegar o período
eleitoral e tudo parece se transformar em tempestade. Não tempestade de chuva,
de pingo d’água grosso caindo, mas de desafios, de ódios e inimizades.
Mas em
muito as tempestades atmosféricas se assemelham aos temporais eleitorais.
Principalmente no sertão, os dois fenômenos provocam inacreditáveis mudanças.
Nas trovoadas, a secura se transformando em viço e vida. Nas tempestades
eleitorais, a secura de ganhar fazendo chover sem ter nuvem.
Contudo,
parece estar em grande parte do povo - seja eleitor ou não - a mudança maior em
períodos assim de raios e trovões pelo voto. Como um mistério que tem o dom de
repentinamente cegar, enlouquecer e transtornar, assim o comportamento de
muitos que se tornam verdadeiramente ensandecidos.
Descendo
das nuvens, as tempestuosas chuvas de trovoadas caem por cima da terra e vão
levando tudo que encontrar pela frente. Bem assim acontece com o eleitor em
defesa de seu candidato: vai desaguando seu fanatismo sem se importar que sua
enxurrada acabe destruindo aquilo desde muito semeado.
E assim
acontece com todo mundo que se envolve na atmosfera eleitoral tempestuosa. Não
há lado pior ou melhor, não há candidato pior ou melhor, não há eleitor pior ou
melhor, não há apoiador ou torcedor pior ou melhor, todos, indistintamente, são
envolvidos pelo clima e logo começam a lançar seus raios e trovões.
Em tempos
assim, de disputas cegas, acirradas, com todos os lados se achando vitoriosos,
a transformação é tão grande que muitos sequer recordam o passado ou anteveem o
futuro. É pelo instante, pela disputa, que perdem amizades antigas, que
desconhecem a própria família, que se tornam em desgarrada paixão.
O momento
é tudo. Nem o passado nem o futuro possui qualquer significação. Cospe na cara
de quem tanto deu acolhida, se torna inimigo de quem sempre tratou como irmão,
renega qualquer amizade e faz da linhagem familiar um mal que deve ser cortado
por causa de uma eleição. Em todo lugar há gente assim, pelo sertão e o mundo
inteiro.
Além dos
raios e dos trovões prontos para lançar no conterrâneo opositor, muitos ainda
acham pouco e enchem a língua de veneno e falsidade e as mãos de pedras e
outras armas bem afiadas. E, não se contentando com as tempestades por eles
mesmos criadas, passam a agir de maneira tal que mais parece numa guerra mortal
onde o inimigo tem de sucumbir.
Assim
mesmo. Com as tempestades também chegam os granizos que quebram o telhado de
vidro de muita gente. Muitas vezes, quando um raio é propositalmente lançado
contra o inimigo do instante, um raio ainda maior acaba caindo aos pés do
agressor. Pois neste momento também a lei do retorno, e com o mal injusto
pagando dobrado pela injustiça.
Ai de quem
de repente se achar em meio a um fenômeno impiedoso como esse. Verdadeiramente
ninguém se salva em meio a uma tempestade assim. E também um tempo propício
para o surgimento de redemoinhos de honras, de furacões de desonras, de
vendavais de violências e arrogâncias.
Nos
sertões, a terra está seca e só mesmo a chuva boa caindo para o retorno da
esperança. Mas tem gente que nem tem mais tempo de orar pela graça divina.
Desde o amanhecer ao anoitecer, virando a madrugada, que só se preocupa em
semear tempestades. Mas somente aquelas que ferem.
O pior de
tudo é que tais tempestades nem sempre são em defesa do seu candidato a
perfeito ou a vereador, mas simplesmente para semear a discórdia e atrair
inimizades por onde passar. Não sabe, contudo, que no momento eleitoral ou
mesmo muito depois, o raio sempre gosta de cair mais de vez sobre a mesma
cabeça.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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