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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

ELEIÇÕES E O TEMPO DE TEMPESTADES


*Rangel Alves da Costa


O sertão pode estar seco como for, tudo esturricando mesmo, mas basta chegar o período eleitoral e tudo parece se transformar em tempestade. Não tempestade de chuva, de pingo d’água grosso caindo, mas de desafios, de ódios e inimizades.
Mas em muito as tempestades atmosféricas se assemelham aos temporais eleitorais. Principalmente no sertão, os dois fenômenos provocam inacreditáveis mudanças. Nas trovoadas, a secura se transformando em viço e vida. Nas tempestades eleitorais, a secura de ganhar fazendo chover sem ter nuvem.
Contudo, parece estar em grande parte do povo - seja eleitor ou não - a mudança maior em períodos assim de raios e trovões pelo voto. Como um mistério que tem o dom de repentinamente cegar, enlouquecer e transtornar, assim o comportamento de muitos que se tornam verdadeiramente ensandecidos.
Descendo das nuvens, as tempestuosas chuvas de trovoadas caem por cima da terra e vão levando tudo que encontrar pela frente. Bem assim acontece com o eleitor em defesa de seu candidato: vai desaguando seu fanatismo sem se importar que sua enxurrada acabe destruindo aquilo desde muito semeado.
E assim acontece com todo mundo que se envolve na atmosfera eleitoral tempestuosa. Não há lado pior ou melhor, não há candidato pior ou melhor, não há eleitor pior ou melhor, não há apoiador ou torcedor pior ou melhor, todos, indistintamente, são envolvidos pelo clima e logo começam a lançar seus raios e trovões.
Em tempos assim, de disputas cegas, acirradas, com todos os lados se achando vitoriosos, a transformação é tão grande que muitos sequer recordam o passado ou anteveem o futuro. É pelo instante, pela disputa, que perdem amizades antigas, que desconhecem a própria família, que se tornam em desgarrada paixão.
O momento é tudo. Nem o passado nem o futuro possui qualquer significação. Cospe na cara de quem tanto deu acolhida, se torna inimigo de quem sempre tratou como irmão, renega qualquer amizade e faz da linhagem familiar um mal que deve ser cortado por causa de uma eleição. Em todo lugar há gente assim, pelo sertão e o mundo inteiro.
Além dos raios e dos trovões prontos para lançar no conterrâneo opositor, muitos ainda acham pouco e enchem a língua de veneno e falsidade e as mãos de pedras e outras armas bem afiadas. E, não se contentando com as tempestades por eles mesmos criadas, passam a agir de maneira tal que mais parece numa guerra mortal onde o inimigo tem de sucumbir.
Assim mesmo. Com as tempestades também chegam os granizos que quebram o telhado de vidro de muita gente. Muitas vezes, quando um raio é propositalmente lançado contra o inimigo do instante, um raio ainda maior acaba caindo aos pés do agressor. Pois neste momento também a lei do retorno, e com o mal injusto pagando dobrado pela injustiça.
Ai de quem de repente se achar em meio a um fenômeno impiedoso como esse. Verdadeiramente ninguém se salva em meio a uma tempestade assim. E também um tempo propício para o surgimento de redemoinhos de honras, de furacões de desonras, de vendavais de violências e arrogâncias.
Nos sertões, a terra está seca e só mesmo a chuva boa caindo para o retorno da esperança. Mas tem gente que nem tem mais tempo de orar pela graça divina. Desde o amanhecer ao anoitecer, virando a madrugada, que só se preocupa em semear tempestades. Mas somente aquelas que ferem.
O pior de tudo é que tais tempestades nem sempre são em defesa do seu candidato a perfeito ou a vereador, mas simplesmente para semear a discórdia e atrair inimizades por onde passar. Não sabe, contudo, que no momento eleitoral ou mesmo muito depois, o raio sempre gosta de cair mais de vez sobre a mesma cabeça.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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