*Rangel Alves da
Costa
Conhecer a
história do cangaço através dos escritos não é tarefa fácil como possa parecer.
Os livros em si, quando não contraditórios, pecam pelos conformismos
bibliográficos. Poucos são aqueles que surgem como originais. E não é fácil ser
original quando se descreve o mesmo fato já relatado por muitos.
Daí uma
indagação: o que ainda resta a ser contado do cangaço? Enquanto história, com
percurso e fim, tudo já foi dito. Ou quase tudo, pois certamente ainda surgirão
muitas inventivas. Mas creio que as tentativas de agora são somente em costurar
alguns retalhos ainda dispersos ou debater controvérsias. Ou apenas recontar os
fatos, mostrá-los em outras vertentes.
Mas
continua insaciável a sede de informações sobre o cangaço. A cada lançamento
surgido emerge quase uma obrigatoriedade de tê-lo na biblioteca. É a velha
paixão cangacista. Ademais, ante a dificuldade de se encontrar testemunhos
vivos e de realizar estudos de campo, o interessado acaba enveredando pelos
livros, reportagens e quaisquer tipos de textos sobre o cangaço.
Neste
âmbito de fontes de pesquisa, exsurge um fato pouco considerado pela maioria
dos interessados, pesquisadores e até escritores: a proximidade das fontes com
os fatos. E isso é de primordial importância para o diálogo entre o acontecido
e sua descrição, ainda que, em muitos casos, a falta de cuidado jornalístico
(apuração) possa transformar uma realidade em mero sensacionalismo.
Tal
preâmbulo alongado apenas para dizer que o professor e pesquisador Geziel
Moura, ao postar, de forma constante, escritos jornalísticos sobre o cangaço,
estes oriundos de revistas e jornais antigos, está prestando uma colaboração
inestimável: proporciona conhecimento sob outra vertente de escrita. E assim
por que o cangaço jornalístico quase sempre aparece como notícia e não como
pesquisa. Daí sua força e pujança na narrativa.
Como se
sabe, diferente do livro, a reportagem geralmente bebe na fonte do próprio
fato. É informação privilegiada pela proximidade do acontecido. Por nascer no
próprio calor da luta ou ainda no abrasamento dos fatos, é que a reportagem
ganha primazia na descrição. E todos sabem que os principais jornais enviaram
muitos repórteres aos sertões nordestinos durante a epopeia cangaceira e logo
após a chacina de Angico.
E algumas
dessas reportagens foram postadas pelo professor Geziel Moura, reproduzindo
páginas de jornais e revistas. Numa, do Jornal “O Povo”, dos idos de 40, possui
como manchete: “Lampeão não foi morto pela polícia” (Revelação de uma irmã do
rei do cangaço). Noutra, no mesmo jornal, tem como título “A arma secreta de
Lampeão” (Por que o rei do cangaço venceu governos e numerosas tropas durante
vinte anos, zombando de canhões, ‘tanks’, gases e aviões - sua tática, sua
estratégia e sua política - além de cap. do exército brasileiro, considerava-se
‘interventor dos sertões’ e propôs ao chefe do executivo a divisão do Nordeste
- organização militar do bando - tinha amizade com diversas autoridades, com
quem conferenciava em plena caatinga). E no mesmo jornal, datado dos anos 30,
consta: “A palavra de Lampeão, o monarcha selvagem dos sertões” (“Não sou
cangaceiro por maldade minha, mas pela maldade dos outros...”, diz em
impressionante entrevista).
Como dito,
ao postar reportagens assim, Geziel vai buscar nas fontes primeiras algumas das
informações que mais tarde foram reproduzidas nos livros. Com uma diferença: os
livros, ao interpretarem os fatos, vão diminuindo ou distorcendo as pujanças
narrativas das reportagens. E mesmo as reportagens surgidas posteriormente em
revistas - e igualmente postadas - servem como preciosos recursos para o
entendimento do cangaço a partir daqueles que viveram o seu tempo. Ou daqueles
cujas entrevistas servem como pontos de vistas pessoais, nem sempre
esclarecidos nos livros.
Por isso
que é preciso ler cuidadosamente as postagens do professor Geziel, vez que a
junção delas acaba formando uma visão ímpar do cangaço, seu contexto e seus meandros.
Mesmo que não se tenha tudo como verdade, fato é que os repórteres estavam mais
próximos aos acontecimentos ou acontecidos do que os escritores de hoje.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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