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segunda-feira, 1 de março de 2010

LEMBRA DO ADEUS E DA LÁGRIMA? (Crônica)

LEMBRA DO ADEUS E DA LÁGRIMA?

Rangel Alves da Costa*


Um dia você mesmo tinha me dito que o adeus nada mais é do que a confirmação de uma viagem, de uma partida, com ou sem volta; e a lágrima nada mais seria do que os olhos se lavando, se banhando para esquecer, para partir pra outra. Acreditei no que disseste, porque sempre acreditei em você, mesmo que as verdades surgidas mostrassem o contrário. Para continuar acreditando, sempre preferi conduzir o erro para mim.
Tanto faz que os verdadeiros conceitos de adeus e lágrimas sejam outros. Tanto faz que os livros digam que a interjeição adeus exprime sentimento de emoção, dor ou sensação de perda; que afirmem que o adeus é uma exclamação de despedida, um termo de desfazimento dirigido a alguém antes de uma separação mais ou menos prolongada; um sinal de despedida com que se implora a proteção de Deus, para quem fica ou se afasta.
Tanto faz que os poetas ou apaixonados digam que o adeus é o tchau mais triste que existe; que é melhor sofrer estando do que dizer adeus; que é uma sensação nos olhos se perguntando se vai voltar; que é um vazio que se antecipa antes que vá embora; que o adeus é muito tempo para se dizer a quem ama; que quem diz adeus a quem ama diz adeus à própria vida; que não é possível resumir tudo o que se passou, tudo o que se viveu num simples adeus. E se eu fosse poeta diria: não diga adeus, manda-me a Deus!
Tanto faz dos outros significados que porventura queiram dar à lágrima. Dizem, friamente e sem sentimento algum, que é a gota de líquido incolor e salgado, produzido pelas glândulas lacrimais, que umedece a conjuntiva e a córnea e mantém os olhos livres de poeira e corpos estranhos. Onde estarão o adeus e a saudade? Dizem que é um líquido produzido em grande quantidade quando alguém chora; que é a conseqüência do choro ou do pranto, consistente na produção em grande quantidade de uma chuva interna nos olhos, geralmente quando estão em estado emocional alterado como em casos de medo, tristeza, depressão, raiva, aflição, dor, adeus ou despedida.
Tanto faz que os poetas façam do substantivo lágrima um rio que corre e leva alguém; que cantem que são como que o sangue das feridas do coração; são o extremo sorrir do amor; que não pedem, mas merecem perdão; que são o sangue da alma; que existem para serem derramadas; que não devem ser contidas, pois no livre exercício do direito da dor; que é o orvalho da noite e da saudade. E se eu fosse poeta diria: a lagrima é a gota da tempestade que amedronta a natureza dos que amam!
Mas tudo bem. A nossa questão é outra, muito mais verdade do que conceitual ou poesia. Foi muito fácil que simplesmente abrisse a porta e seguisse adiante. Ora, os caminhos devem ser percorridos e a vida é pra se viver. O que fere somente é o modo da ação e não do ato. O amor não suporta somente vírgulas e interjeições, dando continuidade ao que vai se tornando desamor, mas também um ponto final. O que dói não foi sentir o adeus ou ter que amargar a lágrima. O que dói foi não ter a força de não sentir, foi simplesmente não poder fingir.
Eu não esqueço, mas tu lembras do adeus e da lágrima? Ontem te vi sem querer e no mesmo instante tive a certeza de que esse novo sol que me ilumina enxugou completamente a lágrima e secou o adeus; mas tu, com a feição amarga de desilusão e tristeza, jamais sentirá novamente o prazer de partir e simplesmente deixar. Agora sou eu quem diz adeus, e com lágrimas de alegria e prazer.


Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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