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sexta-feira, 12 de março de 2010

NO REINO DO REI MENINO – XXXI

NO REINO DO REI MENINO – XXXI

Rangel Alves da Costa*


Os dois duendes que estavam acompanhando a fuga do casal e ajudaram esconder o tesouro não puderam fazer nada quando os dois foram alcançados pelo grupo de perseguidores comandados por Otnejon. Estavam próximos demais, com o barulho de homens e cães se misturando aos gritos das florestas quando chove, por isso mesmo que qualquer encantamento que pudessem fazer restaria infrutífero: os poderes da magia também são limitados.
Naquele instante em que viram os dois sendo cercados, imediatamente veio a ideia de saírem imediatamente dali e procurar um jeito de avisar ao pequeno rei sobre aquele lamentável incidente. Mandaram um recado pelo pássaro esvoaçante para os seus companheiros das florestas, informando-lhes sobre o local onde estavam e o ocorrido .Quando estes estavam às margens do córrego conversando seriamente com Bernal, era sobre isso que estavam falando. Contudo, decidiram ir pessoalmente até o Reino de Oninem. Não foram caminhando nem correndo, apenas foram, e como num passe de mágica já estavam lá.
A intenção dos dois orelhudos era contar detalhadamente a Gustavo como os seus pais foram presos, na tentativa de que Oninem tomasse as providências cabíveis que o caso requeria. Na concepção deles, as ações e as atitudes tomadas pelo rei de Edravoc haviam ultrapassado os limites do tolerável, mesmo em se tratando de uma pessoa repugnante e odiada, como era o caso do dito baixinho.
Ao cercarem o local onde Lize ainda estava caída na poça d'água, tendo ao lado um esposo que mais parecia um abobalhado diante daquela situação, os homens de Otnejon avançaram com os seus cães ferozes e só não foram atacados porque o baixinho sorridente gritou e disse que parassem com aquilo, pois eles só tinham agora algum valor se estivessem vivos. Em seguida disse que ali, no meio da lama e da sujeira, estavam dois trofeus cujo valor seria cobrado muito mais caro do que os dois realmente valiam.
Após proferir mais algumas palavras desse tipo, o baixinho caminhou em direção ao casal, cuspiu-lhe na cara e deu uma bofetada no rosto de Lucius. Depois tomou alguns goles de uma garrafa que estava no bolso e começou a perguntar:
- Por acaso não está faltando alguns objetos com vocês não, onde vocês deixaram aquelas coisas que brilham, todas aquelas joias trabalhadas pelos melhores artesãos do legítimo ouro, todos aqueles envelopes, moedas, cédulas, embrulhos e mais embrulhos do mais belo e rico tesouro existente por essas bandas? Todas essas coisas vocês me roubaram e sabem disso, pois elas já me pertenciam desde o momento em que chegaram no meu castelo pedindo proteção. E se vocês sairam de lá levando o que me pertencia, então é porque me roubaram – E falando bem alto -, então são ladrões, vocês não passam de uns ladrões. E o que os ladrões merecem no reino de Edravoc vocês saberão em bem pouco tempo, bastando que o seu filho, que agora diz que é rei, não passe a dançar conforme a minha música. E vejam que sou pé de valsa. Agora cuidem deles.
Mandou que amarrassem os dois com as mãos para trás, colocassem uma corda nas suas cabeças e os levassem puxados pelo pescoço, como se fossem dois animais desgarrados. Entraram na sede do reino nessa mesma situação, exaustos, sujos e vestidos em farraps, quase morrendo de dores pela caminhada, com os pés sangrando, humilhados perante todos que saíam de suas moradias para ver o cortejo. Pequenas pedras eram jogadas pelos molecotes e uma acertou a testa de Lucius. Ao serem conduzidos até os fundos do castelo, foram jogados numa saleta imunda, onde aguardariam para serem interrogados pelo poderoso do lugar, o baixinho.
Enquanto isso, no Reino de Oninem Gustavo já havia conversado com o moço que se encarregaria de ir a Edravoc para tentar sentir de perto toda aquela situação, procurar notícias sobre o paradeiro dos prisioneiros e também sobre as prováveis medidas que seriam tomadas por Otnejon a partir de então. Contudo, saiu também com uma obrigação pra lá de relevante: procurar saber quem era o segundo homem mais influente do reino e quais as suas características e tendências. A importância dessa última missão o enviado não tinha a menor ideia, cabendo somente à cabeça do pequeno rei decifrá-la. Mesmo assim partiu, e ao amanhecer do dia seguinte já estava pelos arredores do castelo do baixinho mal-afamado.
Lá dentro da suntuosa residência real, o soberano praticava seu esporte favorito de todas as manhãs, que era jogar ratos do brejo no seu criatório de cobras. Diziam até que os seus aposentos eram repletos de víboras peçonhentas, aranhas e uma coisa esquisita que ele guardava escondida numa jaula escondida por trás de uma cortina.
O povo pensava que essa tal coisa era um lobo, pois todas as noites que eram de lua cheia ouviam fortes uivos, como que dolorosos, saindo dos aposentos de Otnejon. Mas naquele momento, em pé e se distraindo vendo os ratos serem cuidadosamente engolidos, o baixinho de repente sentiu que seus pés estavam sendo amarrados e em seguida foi fortemente empurrado para dentro do covil. Não teve tempo de esboçar reação alguma, pois tudo ocorreu em segundos, e o baixinho se estatelou lá dentro, sem poder levantar, ao lado de suas amigas ainda famintas.
Os duendes davam cambalhotas de tanto rir.


continua...



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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