SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 21 de março de 2010

NO REINO DO REI MENINO – XLV

NO REINO DO REI MENINO – XLV

Rangel Alves da Costa*


Logo ao amanhecer, parecendo ainda estar em festa de tanta alegria e disposição, Otnejon reuniu os seus homens, mandou que preparassem o casal para a viagem e fez os últimos preparativos para ir tomar posse da fortuna, em qualquer lugar onde ela estivesse escondida. Considerando o local onde Lucius e Lize foram encontrados e presos, até que seria um percurso fácil e tranqüilo, pois até a natureza estava a seu favor naquele dia. Se houvesse sinais de tempestades nem sairia debaixo da cama, por medo.
Antes de saírem do castelo, o baixinho mal-afamado foi ter uma rápida conversa com o ex-soberano de Oninem para saber o local exato aonde iriam. Lucius respondeu que deveriam seguir até o lugar onde haviam sido encontrados, pois de lá seria mais fácil indicar onde estariam escondidos os bens. Depois seguiram viagem, sendo que dessa vez os dois não iam puxados pelo pescoço feito animais, mas sim com as mãos amarradas e ladeados pelos guardas ressacados do baixinho.
Assim que caminharam cerca de um quilômetro após os muros de Edravoc o tempo começou a mudar, surgindo umas nuvens negras no céu. O baixinho, já assustado mas não querendo perder a oportunidade de colocar rapidamente as mãos na fortuna, esforçava-se a todo custo para seguir adiante. Caminhava praticamente olhando para cima, com medo que viesse o temporal, e por isso mesmo tropeçava de palmo em palmo, caindo e muitas vezes rolando feito uma bola redonda sobre o chão. Numa dessas vezes pegou um arcabuz, que é uma espécie de bacamarte, e deu um disparo para o alto, gritando depois que aquele que ousasse sorrir dos seus tropeções seria atingido no traseiro pelo disparo da arma. Dois guardas acabaram sendo atingidos e tiveram que retornar.
Quando chegaram no exato local onde o casal havia sido encontrado, Otnejon nem demonstrou qualquer tipo de satisfação pela proximidade daquilo que tanto almejava, que era colocar as mãos nas joias e nas moedas que estariam em qualquer lugar ao redor. Pelo contrário, com o tempo se fechando cada vez mais, com nuvens negras ficando cada vez mais baixas, o mal-afamado rei a todo instante corria pra detrás de um pé de pau e se punha de joelhos como se estivesse rezando. Voltava olhando para o céu e se benzendo, como se a única coisa que temesse no mundo fosse as forças da natureza.
Os guardas, percebendo a difícil situação do baixinho, perguntaram a ele o que deveriam fazer agora, vez que já se encontravam no local onde Lucius deveria indicar onde os objetos estariam. E o baixinho assustado, totalmente desnorteado, apenas disse: "Hein, o que, onde? Onde eles estão, como estão, estão armados? Jogue água neles, depois um relâmpago, depois um trovão. Se esconderam debaixo do chão, onde, como, hein?". E foi quando o chefe dos guardas tomou uma drástica decisão e gritou o mais alto que pôde bem ao pé do seu ouvido: "Chegamos!".
Ao descer do ar do pulo que deu, Otnejon mostrou que tinha voltado ao seu estado normal de bestialidade, arrogância e frieza. Deu uma arcabuzada bem no ombro do rapaz que havia gritado e em seguida voltou-se para Lucius, de dedo em riste e ameaçador: "Diga antes que chova, senão...". E o fracassado e desonrado ex-soberano nem esperou ele terminar e ajuntou: "Está logo ali, numa gruta aberta num rochedo. Vamos rápido até lá que quero acabar logo com isso".
Caminharam vencendo os empecilhos da mata fechada, dos espinhos e pedras, e não durou muito para chegarem defronte ao verdadeiro tesouro aos olhos de Otnejon, que de tão extasiado com a vontade de se apoderar de vez da fortuna nem olhava mais para cima, para as nuvens que se abriam e a chuva que logo começaria a cair. "Tudo o que eu levava está aí dentro enterrado, é só procurar que vão encontrar um buraco coberto com areia, folhas e outros objetos. Desenterrem logo e decidam o que vão fazer com a gente depois" – Disse Lucius, sempre de cabeça baixa e evitando olhar para a esposa que soluçava.
Otnejon deu um grito e ordenou que procurassem o tal buraco imediatamente e quando encontrasse avisassem que era para ele ir até lá comandar a retirada cuidadosa dos objetos. Depois de matar algumas serpentes que faziam ninho ali, não demorou muito e os guardas encontraram o ponto exato no terreno onde deveria estar o tesouro. Só poderia ser ali, pois era a única cobertura falsa que haviam encontrado.
Assim, retiraram as folhas e os gravetos que estavam por cima, se armaram de pás e quando deram o primeiro sulco na terra esta cedeu e deixou à vista um buraco totalmente vazio. Vazio não, pois tinha algo parecido com um bilhete lá no fundo e a quase indecifrável escrita dizia: Olhem pra cima. Quando os guardas olharam os duendes despejaram sobre eles um cesto repleto de serpentes venenosas.
Correndo e pulando para se livrarem das serpentes, quando os homens chegaram na entrada da gruta para avisar ao baixinho sobre o ocorrido foi no exato momento em que um relâmpago riscou os céus e o estrondo de um trovão quase estremece onde estavam. Ao ouvir o trovão Otnejon nem pensou duas vezes e saiu em disparada, passando pelos guardas e indo parar dentro do buraco, onde caiu enrolado parecendo um tatu.
Lá em cima da gruta, já invisíveis, os duendes sorriam pra se acabar.


continua...



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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