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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 1 de março de 2010

SEXO E CAFÉ PEQUENO (Crônica)

SEXO E CAFÉ PEQUENO

Rangel Alves da Costa*


A sociedade mundana, depravada e despida de qualquer senso moral ou ético, não pode pretender que haja valorização dos mais nobres sentimentos do amor e das relações afetivas. Querer impor seriedade e pudor nos outros, sem que primeiro lave sua cozinha, é fácil demais para aqueles que têm os olhos para ver somente o que está adiante e jamais para olhar o que está internamente corrompido. É o que penso.
Isto tem que ser dito antes que passemos, infelizmente, a acostumar que o pecado é bom porque é nos outros, a aceitar passivamente que o pecado que mora ao lado não nos afetará, mesmo que pequemos muito mais que os ditos pecadores. Inadmissível é que a banalização das relações tenha tornado os afetos algo meramente apelativo, com intenções despudoradas e objetivando somente a posse corporal, a posse do sexo enquanto órgão genital, como se não houvesse mais lugar para o amor, para a afeição, para o compartilhamento do outro enquanto ser que propicia bem-estar e felicidade, e também verdadeiro prazer sexual.
Ao nosso redor, pelo mundo afora, em todo lugar, a visão da sexualidade como instrumento de uso e abuso se tornou uma praxe que, reafirmemos, é considerada por uma imensa maioria que, mesmo assim, ainda procura se esconder no falso véu do puritanismo, da religiosidade inexistente, da castidade corrompida.
Com as exceções devidas, não há beata que não estremeça quando o assunto é sexo, por vontade ou simples afloração dos desejos oprimidos, como diria o psicólogo. Não há nenhuma demasiadamente religiosa que não faça dessa falsa opção um pretexto para atacar a exacerbação da sexualidade no outro, quando no seu íntimo e nos seus sonhos a pecaminosidade impera. Não há nenhuma “santinha” que não viva ardendo na fogueira dos desejos mais pornográficos. Contudo, todo mundo quer passar de todo jeito uma imagem de sacralidade, de postura íntegra e de absoluta inocência.
O que faz realmente pasmar, entretanto, não é a virtude mentirosa ou a seriedade forjada, mas sim como essas pessoas procuram transformar os outros em impuros filhos de Sodoma e Gomorra. Os outros não valem nada, não prestam, estão destinados a arder infinitamente no fogo da Geena porque são despurados, só pensam em sexo, fazem sexo com qualquer um, pagam ou recebem dinheiro para fazer sexo. Como diz o ditado, pra falar teriam que primeiro olhar o próprio rabo; pra acusar teriam que primeiro sopesar o passado e o presente, e ver se sua cama quente ainda não está ardendo. E não é somente a cama do lar conjugal, mas qualquer uma, pois muitas vezes esquecem dos pulos que “inocentemente” dão.
Longe de se pretender a primazia do amor romântico; da virtude da mocinha interiorana que espera em castidade o noivo que vai trabalhar no sul do país; da seriedade que ainda impera e prospera em muitas pessoas que não se deixam seduzir pelos apelos sexuais que chegam de todo modo; da mulher que morre virgem porque o seu amado lhe trocou por outra. Não. Não se pretende nem o demais nem o de menos, mas sim que as pessoas, mesmo que não assumam os bichos no cio que são, façam dos exemplos que veem um espelho para ver se se enxergam nele.
Verdade é que a situação é deveras lamentável. Que jogue a primeira pedra aquela pessoa que possa servir de exemplo de moralidade e integridade absolutas. E é mais lamentável ainda que não tenhamos um santuário onde possa caber todos esses “santinhos” e “santinhas” que se espalham nos becos e escuros, nas mansões e nos casebres, nas ruas e nos shoppings da vida terrena. E é ainda mais lamentável afirmar que o prazer sexual se tornou num mix de produção instantânea, e o sexo muito mais banalizado do que um café pequeno sorvido em qualquer botequim e nas xícaras mais imundas.



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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