SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 1 de março de 2010

PESSOAS (Crônica)

PESSOAS

Rangel Alves da Costa*


Gosto de olhar, de ver, de sentir, de imaginar, de lembrar, de ter, de tocar, de amar, de apreciar, de abraçar, de beijar, de apertar, de reconhecer, de seguir, de defender, de ajudar, de respeitar, de venerar, de valorizar pessoas.
Tenho prazer em conversar, em interagir, em andar, em caminhar, em sentar, em correr, em realizar, em projetar, em planejar, em sonhar, em discutir, em repartir, em compartilhar, em dividir, em chorar, em sorrir, em entristecer, em gritar, em lutar com pessoas.
Sinto orgulho em viver e nessa vida ter filhos, avós, bisavós, guardiões, tutores, netos, bisnetos, amigos, conhecidos, vizinhos, parentes, gurus, conselheiros, guias, mestres, professores, orientadores, companheiros, escudeiros, semeadores, desconhecidos e até estranhos e estrangeiros, porque são pessoas.
Jamais vou aceitar nas pessoas e contra as pessoas o racismo, a discriminação, o preconceito, o ódio, a tortura, a intolerância, a aversão, o nojo, a violência, a intransigência, a xenofobia, a homofobia, o segregacionismo, o separatismo, a animosidade, a antipatia, o arianismo, o fanatismo, o extremismo, a inflexibilidade, o abuso, a agressão, a brutalidade, a escravidão, a inimizade, a hostilidade, a inclemência, o excesso, o ataque, a barbaridade, a truculência, a selvageria, a bestialidade, a sujeição e a servidão.
Respeito nas pessoas a sua fé, a sua religião, a sua religiosidade, a sua igreja, o seu culto, a sua liturgia, o seu altar, o seu mito, o seu símbolo, a sua imagem, o seu solidéu, a sua coroa, a sua fita, o seu tambor, o seu chocalho, o seu totem, a sua reverência, a sua adoração, o seu monoteísmo, o seu politeísmo, o seu ateísmo, a sua veneração, a sua descrença, a sua incredulidade, o seu credo, a sua crença, a sua crendice, a sua seita, a sua superstição, o seu santo, o seu pai de santo, o seu anjo, o seu anjo da guarda, o seu protetor, a sua evangelização e o seu Deus.
Gosto de Jesus, o Cristo, de Jesus, o homem, de João, de Maria, de Gandhi, de Buda, de Pedro, de Beethoven, de Zumbi, de Lampião, de Teresa, de Raimundo, de Einstein, de Vinícius. de Francisco, de Tiradentes, do Conselheiro, de Madre Teresa, de Mãe Menininha, de Jorge Amado, do Conselheiro, de Lúcia, de Luciana, de Rangel, de Vivaldi, de Schubert, de Aurélio, de José, de Michelangelo, Baudelaire, de Proust, de Conceição, gosto de muitas outras, porque foram e são pessoas.
Aprecio nas pessoas a sua cor, a sua matiz, a sua raça, a sua casta, a sua classe, a sua progênie, a sua família, a sua tribo, o seu sangue, a sua raiz, a sua história, a sua memória, a sua negritude, a sua miscigenação, a sua brancura, a sua morenice, a sua mestiçagem, a sua mulatice, a sua lourice, a sua tez, a sua feição, o seu lábio, a sua língua, a sua linguagem, a sua escrita, a sua voz, o seu cabelo, o seu sorriso, o seu andar, o seu rebolar, o seu caminhar, o seu olhar, o seu falar e até o seu silenciar.
Gosto de ver nas pessoas essa coragem, esse ânimo, essa força, essa vontade, essa audácia, essa bravura, essa luta, esse plano, essa pretensão, esse anseio, essa aspiração, essa determinação, essa decisão, esse sonho, essa ideia, essa fantasia, essa quimera, essa busca, essa procura, essa realização, essa teimosia, esse destemor, essa certeza, essa fé, essa entrega, essa disputa, essa vitória e até esse saber perder.
Não quero ver as pessoas na pobreza, na miséria, na penúria, na inferioridade, na necessidade, na carência, no sofrimento, na indigência, na adversidade, na desventura, na infelicidade, no infortúnio, na submissão, na esmola, na lágrima, no choro, na desgraça, no lixão, nas esquinas, nas marquises, no relento, no abandono, no vício, na droga, no furto, no roubo, na prisão, no túmulo.
Quero ter e ver as pessoas com vida, saúde, paz, felicidade, amor, respeito, consideração, trabalho, salário e bem-estar. Quero apenas o que cada um merece ser, o que cada um deve ter, pois as pessoas nasceram foi para viver com liberdade, com segurança, com dignidade, com integridade e com justiça.
E não quero demais, simplesmente porque "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza; homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações; ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; é livre a manifestação do pensamento; é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política; é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão; a prática do racismo constitui crime inafiançável; é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral", como prevê a Constituição Federal. E é assim que deveria ser, em nome da valorização do ser humano, das pessoas.
Que ressoe em todos nós o encanto do canto que diz que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque somos uma gota d'água, somos um grão de areia. É preciso, pois, amar as pessoas como se não houvesse diferenças, porque somos todos irmãos, mesmo que queiramos ser filho único de Deus.



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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