NO REINO DO REI MENINO – XVIII
Rangel Alves da Costa*
Gustavo e Bernal voltaram-se sobressaltados com a achegada abrupta do cavaleiro e a notícia transmitida fez com que o rei procurasse se inteirar imediatamente de tudo o que realmente estava ocorrendo. E o guardião, arfando e com aspecto amedrontado, foi logo esclarecendo:
- Meu rei, agora há pouco, assim que os clarins soaram nas guaritas anunciando a abertura dos portões do castelo, do nada surgiu uma imensidão de meninos correndo, entrando pelos portões, atravessando a praça e forçando as portas do castelo. Verdade é que conseguiram abri-las e estão lá por toda parte, sem que nossos guardas possam fazer nada, pois se trata de meninos mais ou menos na sua idade e estão desarmados. Do lado de fora estão outras pessoas que dizem que são os seus pais. Nossos guardas tentaram retirá-los dos aposentos pacificamente, mas foi impossível, e quando quiseram expulsá-los de qualquer maneira, eis que surgiram, segundo contam, umas criaturas estranhas, pequeninas mas amedrontadoras, vez que atiram pequenas lançam nos guardas, tocam fogo em suas vestes e espalham formigas mordedoras pelos corpos. Todos os nossos guardas saíram em debandada de lá, numa correria só, e muitos deles se atiraram no poço dos lagartos com roupa e tudo...
A essa altura do minucioso relato do cavaleiro, os dois amigos, que já haviam se entreolhado algumas vezes e estavam totalmente recompostos do susto, não levariam muito tempo para dar sonoras gargalhadas. E não foi diferente, pois sorriram ruidosamente e foram acompanhados pelos seres que estavam invisíveis ao redor. Sem ter noção do que estava ocorrendo, o cavaleiro começou a olhar de um lado a outro assustado, sem saber mais o que fazer nem o que falar. E foi quando Gustavo falou, ainda meio sorridente:
- Não se preocupe rapaz, está tudo bem. Fez bem o seu trabalho em ter vindo até aqui me avisar sobre o ocorrido. Ao menos por esse tipo de invasão eu já estava esperando. Agora pode voltar e avisar ao chefe da guarda que deixe os meninos em paz, não os incomode onde eles estão, pois o que eles fizerem de errado eu mesmo resolverei quando voltar. Daqui a meia hora estarei de volta, avise a todos.
Assim que o cavaleiro retornou, o pequeno rei tomou banho no córrego e em seguida se encaminhou de volta ao castelo. Nem passava pela sua mente, mas este era o seu primeiro dia como soberano do Reino de Oninem.
Meia hora após o retorno seguiu até o salão principal junto com Bernal, subiu numa mesa, bateu palmas para chamar atenção e falou bem alto:
- Silêncio, quero ordem no castelo. Chamem todos os meninos que estão espalhados pelos aposentos fazendo bagunça e se retirem daqui imediatamente, saíam já daqui e vão para junto de seus pais que estão em frente ao castelo. Quando eu chamar, aí sim, vocês poderão entrar aqui e se comportarem como gente, como pessoas responsáveis. Vocês acham que vou escolher auxiliares que usam a cabeça pra fazer bagunça? Não, aqueles que vou escolher devem causar transtornos aos nossos inimigos e não ao o castelo do reino. E tem outra, se não fizerem agora o que estou mandando chamarei um exército dessas criaturinhas que vocês viram por aqui expulsando os guardas. E eles virão com toda força e raiva pra cima de vocês.
Em um minuto não restava mais só menino dentro do castelo, a não ser o próprio rei. Este chamou o amigo e disse que por enquanto era pra deixar os aposentos assim mesmo desordenados e revirados como estavam, pois naquele momento achava melhor que fosse assim e toda aquela bagunça seria de muita serventia. Bernal ficou sem entender nada diante da decisão do rei. O que teria ele planejando, ficou se perguntando. Precisava descobrir, pensou, mas antes de se afastar um instante para invocar seus poderes mágicos, perguntou ao rei:
- E agora majestade, que os meninos já conhecem a surpresa que estava preparada para eles, que era o surgimento inesperado dos dois seres das florestas para tentar amedrontá-los, o que faremos agora? Danados como são, garanto que susto ou medo eles não vão ter mais, o que pensa então em fazer para escolher os mais espertos, mais inteligentes, mais destemidos?
- Não se preocupe Bernal, já tenho em mente o que será feito. No momento não vou mais precisar dos seus amigos da magia não, mas não dispense eles agora não, pois talvez precise para outra coisa. Sei que quer saber o meu plano, mas não vou contar qual é agora não, e nem ouse sair escondinho daqui pra ir lá em cima usar dos poderes que tem para conhecer o que pretendo fazer.
Totalmente agoniado, louco para saber o que se passava pela cabeça do menino, implorou ao amigo:
- Por todos os elementais, por todos os deuses e seres da magia, pelo grande Roiam, protetor deste reino, dize-me majestade, o que pensas fazer?
E Gustavo, para decepção do feiticeiro do bem, apenas disse:
- Aguarde só um instante Bernal, pois está à sua frente e ao seu redor o que será feito.
continua...
Advogado e poeta
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