*Rangel Alves da Costa
A
sobrevivência, para muitos, exige um desmedido sacrifício. Assim com Dona
Zefinha, viúva, idosa pelas durezas da existência, solitária, quase na desvalia
de tudo. A idade ainda não lhe permitiu a aposentadoria, mesmo que já pareça
ter setenta ou mais anos. Não recebe auxílio governamental algum, muito menos
de político. Sobrevive da ajuda de um e de outro e da cocada que faz para
vender na porta do casebre onde mora, na passagem dos caminhantes e viajores.
Contudo, fazer cocada é uma coisa, mas cocada de frade é bem diferente. O frade
ou cabeça-de-frade, como conhecido no sertão nordestino, é um cacto
arredondado, cheio de espinhos, que possui uma espécie de coroa acima do seu
bojo. E para fazer sua cocada, toda manhã Dona Zefinha adentra no mato para
procurar cactos, cuidadosamente recolhê-los, com um cuidado danado por causa
dos espinhos, e depois transportá-los até seu quintal. E então outro trabalho
danado, que é retirar toda a pele espinhenta, pinicar em pequenos cubos a carne
esbranquiçada, para enfim jogar tudo no tacho, com água, açúcar, uma pitadinha
de sal, leite, leite de coco, coco ralado e cravo. E, por fim, vender sua
cocada, por um vintém de nada, quase sem lucro algum. Apenas vender para
sobreviver, quase sem vintém de nada, quase sem sobreviver.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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