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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 1 de julho de 2016

Palavra Solta - o doce de frade de Zefinha


*Rangel Alves da Costa


A sobrevivência, para muitos, exige um desmedido sacrifício. Assim com Dona Zefinha, viúva, idosa pelas durezas da existência, solitária, quase na desvalia de tudo. A idade ainda não lhe permitiu a aposentadoria, mesmo que já pareça ter setenta ou mais anos. Não recebe auxílio governamental algum, muito menos de político. Sobrevive da ajuda de um e de outro e da cocada que faz para vender na porta do casebre onde mora, na passagem dos caminhantes e viajores. Contudo, fazer cocada é uma coisa, mas cocada de frade é bem diferente. O frade ou cabeça-de-frade, como conhecido no sertão nordestino, é um cacto arredondado, cheio de espinhos, que possui uma espécie de coroa acima do seu bojo. E para fazer sua cocada, toda manhã Dona Zefinha adentra no mato para procurar cactos, cuidadosamente recolhê-los, com um cuidado danado por causa dos espinhos, e depois transportá-los até seu quintal. E então outro trabalho danado, que é retirar toda a pele espinhenta, pinicar em pequenos cubos a carne esbranquiçada, para enfim jogar tudo no tacho, com água, açúcar, uma pitadinha de sal, leite, leite de coco, coco ralado e cravo. E, por fim, vender sua cocada, por um vintém de nada, quase sem lucro algum. Apenas vender para sobreviver, quase sem vintém de nada, quase sem sobreviver.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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