*Rangel Alves da
Costa
Alcino
Alves Costa, cidadão poço-redondense, só veio ao mundo depois que o último
vestígio do cangaço arrefeceu. Com efeito, quando Corisco foi morto de
emboscada em 25 de maio de 1940, Alcino ainda gestava em Dona Emeliana, sua
mãe. Com menos de um mês é que veio ao mundo sertanejo.
Nascido a
17 de junho de 1940, um pouco menos de dois anos da chacina de Angico e a morte
de Lampião, sua Maria tão bonita e mais nove cangaceiros, Alcino sequer
imaginava que aquele chão que pisava ainda guardava o rastro de uma história
sem fim. Eis que o fim do cangaço é o fim apenas do personagem, jamais do
contexto.
Mas, sem
ter vivido naqueles idos, sem ter, enquanto meninote, corrido mata adentro com
medo de Lampião e seu bando, o que Alcino tem a ver com o cangaço, além de sua
reconhecida escrita sobre o tema? Muito mais do que se possa imaginar.
Ora,
Alcino nasceu em Poço Redondo. E o que significa este lugar na saga cangaceira?
Alcino teve o seu tio Manoel Marques, irmão de sua mãe Emeliana, arribado no
cangaço como o nome de Zabelê. Alcino casou com Maria do Perpétuo, filha de
China, um dos maiores amigos do Capitão Lampião.
Quer
dizer, Alcino era sobrinho de cangaceiro, genro de protetor e amigo do cangaço,
vivendo num lugar que havia sido berço de mais de três dezenas de cangaceiros,
bem como de renomados coiteiros. Filho de um sertão que traduzia fielmente a
história e conterrâneo de muitos que ajudaram a construir suas páginas.
E quando
cangaço se findou e muitos dos sobreviventes passaram a viver sobre as cortinas
do esquecimento, eis que Alcino bradou pelo reconhecimento e valorização de
todos aqueles sertanejos intrépidos e destemidos. E assim com o ex-cangaceiro e
o ex-coiteiro.
Foi amigo
cordial de Sila, a quem muito ajudou quando a ex-cangaceira e esposa de Zé
Sereno descia de São Paulo para visitar os seus de imensa família. E por Adília
mantinha uma profunda amizade, tornando-a como verdadeira integrante da família
e a protegendo e acolhendo em muitas de suas necessidades.
Foi
igualmente amigo de Mané Félix, que chegava à sua residência e nem precisava
pedir licença para entrar. Também de todos os irmãos Félix das beiradas do
Velho Chico e personagens importantes no coiterismo da região. Alcino foi o
responsável por desenterrar Zé de Julião dos escombros do esquecimento e
torná-lo, merecidamente, reconhecido como o mais ilustre e enigmático filho de
Poço Redondo.
Por muito
tempo, sequer a família de Zé de Julião preservou sua memória. Talvez a fama de
ex-cangaceiro (Cajazeira) e de político desafortunado pela perseguição do
poder, seus dramas e sua trágica morte, tivessem silenciado os seus, apagando-o
também de toda memória sertaneja. Mas Alcino disse não. E apenas com a verdade
fez renascer a grandiosidade de um homem.
Em tal
contexto, convivendo com a própria história, então Alcino começou a rabiscar
tudo com sua letra miúda. E assim nasceram “Lampião Além da Versão – Mentiras e
Mistérios de Angico”, “O Sertão de Lampião” e “Lampião em Sergipe”, que se
tornaram referências necessárias na historiografia do cangaço.
No seu
mundo que era Poço Redondo, se enchia de prazer e contentamento toda vez que
chegava um estudioso ou pesquisador do cangaço. E suas portas abria para Paulo
Gastão, Luitgarde Cavalcanti, Ivanildo Silveira, Sabino Bassetti, Ângelo
Osmiro, Manoel Severo, Juliana Pereira, João de Sousa Lima, dentre tantos
outros.
Nascido em
Poço Redondo, convivendo num meio assim e com gente assim, não seria outro
destino de Alcino senão se apaixonar pelo cangaço e toda a sua saga e vereda.
Hoje dá nome ao Conselho Consultivo do Cariri Cangaço, em homenagem póstuma.
Mas quanta gratidão sei que guarda.
Sou seu
filho, e sei.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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