*Rangel Alves da
Costa
Os sábios
falharam em eternizar a vida humana, transformar os metais em ouro e obter
substâncias que curassem todos os males do corpo e da mente. O homem não se fez
imortal nem o metal inferior foi transformado em ouro. Mas onde falharam os
alquimistas, aqueles velhos bruxos, cientistas e sonhadores, que não
conseguiram as fórmulas que superassem os ditames da divina criação?
Mesmo não
tendo conseguido seus objetivos, a alquimia sempre foi reverenciada ao longo da
História. Os seus objetivos estão insertos no próprio conceito. Tem-se a
alquimia como a ciência mística que tem como objetivo principal a transmutação
dos elementos da natureza. Daí que incansavelmente os alquimistas se empenharam
para criar a Pedra Filosofal, que teria a capacidade de transformar qualquer
metal em ouro, e o Elixir da Longa Vida, que daria a imortalidade a quem o
bebesse.
Por trás
da alquimia estão forças esotéricas, místicas e religiosas poderosas, sendo os
alquimistas, por muito tempo, considerados como verdadeiros bruxos. Somente
depois, após alcançar um caráter científico, é que sua concepção passou a
envolver conhecimentos da astronomia, astrologia, química, metalurgia e
filosofia. Nas artes e na literatura, alquimia passou a ter forte disseminação,
vez que sua misteriosa prática serviu de pano de fundo para muitas e
instigantes criações.
Até hoje
se imagina a prática alquimista sendo realizada em porões escurecidos, com
velhos e estranhos senhores ao redor de caldeirões, de fórmulas químicas
misteriosas, de restos de animais e de árvores, como se estivessem preparando
um enfeitiçamento ou uma porção mágica a mando de um rei. Mas não, apenas
juntando, pela milésima vez, elementos para enfim chegar ao ouro e à imortalidade.
Como dito, jamais conseguiram seus principais objetivos, mas de seus
caldeirões, bacias e experimentos, surgiram conquistas até hoje validadas pela
Ciência.
Diante da
realidade de hoje, num mundo tomado de arrogâncias, violências, barbáries,
roubalheiras, desesperanças, terrorismos, ameaças de todos os tipos, nada mais
justo que se reinvente a alquimia e se vá buscar na transmudação das realidades
cruéis e desumanas a possibilidade de uma existência melhor e mais digna. Não
se objetiva a obtenção da Pedra Filosofal, do Cálice Sagrado (Santo Graal) nem
do Elixir da Imortalidade, mas tão somente a fórmula de viver.
E qual
seria a fórmula de viver, obtida através da moderna alquimia? Antes de tudo, a
retomada no homem de seu estado de criação. Ao ser criado, como dádiva divina
ao homem foi dado o poder de discernimento, de convivência responsável com os
da mesma espécie e dos demais seres da criação, e o comando da vida sobre a
terra, através de ações que dignificassem sua existência.
Uma
fórmula que estabelecesse na mente humana a retomada de tais princípios, já
seria uma alquimia essencial à vida e ao próprio homem. Ora, o homem não foi criado
para o mal, para a guerra, para a injustiça nem para a tirania. A transmudação
do estado natural para o estágio bestial foi invento do ser humano. O que se
deseja apenas é que ele, no seu poder racional de ação, simplesmente compreenda
que por sua culpa o mundo se transformou num lugar imprestável à vida. Seria
demais mudar?
A
mentalidade humanizada do homem redundaria em muitas outras alquimias. E nada
impossível ou difícil demais de acontecer. Amar não é impossibilidade, conviver
pacificamente não é algo inalcançável, as amizades e os cordiais
relacionamentos não são situações irrealizáveis. Tudo tão fácil de ser visto e
compreendido. Tanto o homem como a planta e o animal - e assim com todos os
seres do planeta - nasceram com seus desígnios e razões de viver, e não parece
justo que ocorram interferências para que o ciclo natural seja quebrado por
atitudes irracionais.
Uma
alquimia que faça renascer na mente humana seu lado bom, seu lado positivo, sua
capacidade de fazer o bem e viver honestamente. Não é próprio de nenhum ser
humano já nascer propenso à prática do mal, a ter condutas negativas, a se
comportar e agir sempre contrariando a paz, a concórdia, o respeito. Duas
gotinhas de vergonha na cara e mais umas tantas na mente maldosa e irracional.
E que o
fogo queime no próprio fogo. Assim, uma alquimia fazendo com que o mal não
alcance ninguém sem que antes o maldoso experimente de seu veneno. Uma porção
tão eficaz que faça surgir um eterno espelho diante de cada um. E nele estará
espelhado tudo o que foi desonrosamente praticado. Somente assim o homem teria
de continuamente conviver com o olho do erro mirando-o a cada passo.
Uma
alquimia diferente ou uma chance à vida. Como está comprovado que o homem não
deu certo como ser da criação, então que ele seja testado até se transformar
noutro ser. Um ser humanizado ou o lobo de si mesmo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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