*Rangel Alves da Costa
O São
Francisco não é mais aquele rio grandioso de outro. Não é mais o caminho das
águas, a estrada sertões adentro, sequer travessia da vida ribeirinha. Houve um
tempo de grandes embarcações aportando, de pescadores e pescarias, de todo um
comércio sendo realizado pelos seus portos e passagens. Havia a balsa, a canoa
de tolda, a chata, embarcações de grande calado. Ao entardecer, nos portos e
cais ribeirinhos, os moradores nas calçadas altas não queriam outra coisa senão
se encantar com as águas mansas trazendo e levando vidas e sonhos. Mas tudo foi
perdendo seu encanto pelo desencanto das águas. O Velho Chico emagrece,
amiudou, ficou quase esquelético em muitas ribeiras. As cidades e povoações
perderam seu sentido de vida, entristeceram, vivem dos lenços molhados de
outrora. Ainda nas calçadas altas, agora muito mais distantes da beirada das
águas, os velhos ribeirinhos procuram sinais na curva do rio e nada encontram.
Vai dia e vem dia e nada de bom acontece. O nego d’água partiu, a carranca não
desponta mais, as velhas histórias de encantamentos e aparições já não existem.
Apenas a saudade, apenas a lembrança de um tempo onde o rio era a vida e a vida
era o Velho Chico.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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