SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 4 de maio de 2016

Palavra Solta - manhã sem sol


*Rangel Alves da Costa


Não adianta abrir a porta, a janela ou afastar as cortinas. Ainda que sol brilhe intensamente lá fora, intimamente é como se tudo estivesse nublado, esperando tempestade cair a qualquer instante. Ao levantar, já se reconhece triste, cheio de angústia, tomado de aflição. Procura razões e motivos e nada encontra que justifique estar assim. Mira o mundo ao redor e é como se nada avistasse. Mas olha para dentro de si mesmo e também nada avista. Não sente saudade, não resolveu reviver o passado naquele momento, não quer voltar atrás, não está doente, nada. Mas se sente como estivesse num vazio imenso, à beira de um precipício, duvidoso dos pés adiante, quase imprestável a qualquer coisa. Toma um café para ver se desperta a força e o contentamento, mas nada. Toma um banho, finge uma cantiga, mas nada modifica seu estado da alma. Deita em qualquer lugar, fecha os olhos e sente a tempestade cair, os relâmpagos e os trovões. Adormece. Abre os olhos. O sol é ainda aquele desde que abriu a janela. Mas tudo ainda nublado, triste. E não adianta forjar o espírito com alegrias inexistentes. São dias que, simplesmente, amanhecem para ser assim.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: