*Rangel Alves da Costa
Não
adianta abrir a porta, a janela ou afastar as cortinas. Ainda que sol brilhe
intensamente lá fora, intimamente é como se tudo estivesse nublado, esperando
tempestade cair a qualquer instante. Ao levantar, já se reconhece triste, cheio
de angústia, tomado de aflição. Procura razões e motivos e nada encontra que
justifique estar assim. Mira o mundo ao redor e é como se nada avistasse. Mas
olha para dentro de si mesmo e também nada avista. Não sente saudade, não
resolveu reviver o passado naquele momento, não quer voltar atrás, não está
doente, nada. Mas se sente como estivesse num vazio imenso, à beira de um precipício,
duvidoso dos pés adiante, quase imprestável a qualquer coisa. Toma um café para
ver se desperta a força e o contentamento, mas nada. Toma um banho, finge uma
cantiga, mas nada modifica seu estado da alma. Deita em qualquer lugar, fecha
os olhos e sente a tempestade cair, os relâmpagos e os trovões. Adormece. Abre
os olhos. O sol é ainda aquele desde que abriu a janela. Mas tudo ainda
nublado, triste. E não adianta forjar o espírito com alegrias inexistentes. São
dias que, simplesmente, amanhecem para ser assim.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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