*Rangel Alves da Costa
Duas vezes
ao dia ela fazia assim: ao chegar à boca da noite o logo ao acordar. Tal era o
costumo santo, fielmente religioso de Sinhá Maroca. Todos os dias nos mesmos
horários, ela se ajoelhava perante o seu oratório para os seus ofícios
sagrados. Rezava, muitas orações, conversava com Deus, com anjos e santos,
implorava, agradecia, tornava a implorar. Depois se benzia e já se sentia
pronta para os demais afazeres. Católica fervorosa, num beatismo desde mocinha,
não perdia uma missa, uma novena, uma procissão. Mas abdicou de São Sebastião
como seu santo maior para abraçar o Padre Cícero Romão Batista, seu Padim Ciço.
No oratório, o seu padim possuía lugar garantido ao lado de outros santos. Mas
não só no oratório, pois a casa inteira era protegida por imagem do Santo do
Juazeiro e dos nordestinos. Seu sonho maior era seguir um dia até as terras
cearenses e lá, aos pés da estátua, agradecer por tudo na vida. Mas era pobre,
sem dinheiro suficiente para a viagem. E todos os dias, em meio a tantos e mais
tantos pedidos, silenciosamente implora que antes de morrer lhe fosse dada a
benção de ir até o Juazeiro beijar a mão de seu santo. Eis a fé, a grande e
incontida fé de um povo. Um povo com a feição nordestina, com a feição de Sinhá
Maroca.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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