*Rangel Alves da
Costa
Comumente
se diz que o arco-íris - aquele fenômeno óptico e meteorológico avistado quando
a luz solar incide sobre gotículas de chuva - é formado por sete faixas nas
seguintes cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta.
Contudo,
comprovado está que as reais cores não se resumem apenas a sete. E são mais,
muito mais, tantas quantas o olho humano deseje enxergar. Com efeito, se é olho
humano que divide o arco-íris em faixas e dá a cada uma delas uma cor
diferente, segundo a tabela de cores, bem poderia se esforçar um pouco mais
para compreender que há um entrelaçamento de cores, de forma sutil, gerando
muitas tonalidades.
Por
exemplo, sabe-se que a junção de cores vai formando outras cores e que uma
mesma cor possui diversas tonalidades, e sendo assim não há como dizer que o
vermelho termina ao começar o laranja ou que o verde, vem, nitidamente, após o
azul. Antes que o vermelho adentre ao laranja, outras cores já estarão se formando,
numa junção de matizes, e assim por diante. Desse modo, ao se convencionar
sobre as sete cores deixaram-se de lado muitas outras gradações.
Há também
o problema de percepção da cor. Exemplo nítido disso diz respeito à cor da
noite. Basta uma pergunta e a maioria responderá que negra é a cor da noite.
Contudo, todos sabem que a cor da noite é de maior ou de menor intensidade
segundo a localização da lua e o seu reflexo sobre a terra. Há noite de negrume
fechado, de plena escuridão, mas também aquela dourada pelo luar. Ainda assim
será noite, e de cor negra, na percepção da maioria das pessoas.
E a cor da
noite para o cego, a cor do arco-íris para o cego, a cor das cores perante a
visão do cego? Tudo segundo uma aprendizagem ou por um desejo íntimo de que as
coisas e os fenômenos sejam de determinadas cores. Estas simbólicas, porém, vez
que a paisagem escurecida no olhar não permite divisar um entardecer ou um
alvorecer. Tudo parecerá noite, mas ainda assim não o será.
E tudo não
será noite porque o cego doma os seus sentidos visuais a partir do acordar e do
adormecer. Desse modo, a cor do dia não é o da claridade, mas da percepção de
que não é noite, mesmo não diferenciando com exatidão a gradação noturna. Por
consequência, a cor da noite será aquela de quando os olhos estejam fechados
para adormecer. Neste sentido, sentir a escuridão significa conhecer o momento
do dia segundo a sua função.
Assim,
para o cego o arco-íris possui a cor da imaginação. Imagina-se a cor das outras
para, numa idealização, chegar à sua fantasia. Daí que se alguém disser ao cego
que um arco-íris pode ser avistado no horizonte, logo também será percebido por
este, pois, conhecendo verbalmente o que seja, logo o presume perante o olhar
sem cortinas. E certamente que ele avista melhor o espectro luminoso do que
muita gente com perfeita visão.
Muita
gente se põe à janela para chorar, para entristecer, para nada avistar diante
do olhar. São pessoas aflitas, nostálgicas, saudosas, tomadas de amarguras e
sofrimentos no coração e por toda a alma. Em pessoas assim, perante situações
tais, tanto a paisagem verdejante como a mais bela borboleta voejando ao redor
nada despertará ao olhar nem aos sentimentos bons. Avistam apenas a cortina
negra que desejarem.
E o que
seria o arco-íris para pessoas assim, chorosas e melancólicas? Apenas uma
imagem qualquer, sem cor ou significado algum. Quando muito, apenas um vulto
que se avista ao longe, mas que poderia ser uma nuvem de chuva ou um rastro de
avião. O vermelho é dor, o azul é sofrimento, o amarelo é desesperança, o
violeta é a pior sensação sobre tudo. E não há como juntar as cores e
proporcionar uma significação diferente, alegre, prazerosa, feliz.
Daí que o arco-íris
possui outras cores além daquelas ensinadas pelos livros. Não somente na sua
junção de matizes, mas principalmente porque sua visão sempre depende do olhar
que o avista. Não é o nada negro para o cego, mas pode ser o nada, e nada
mesmo, para o olhar tristonho que mira o horizonte como um vazio de tudo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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