*Rangel Alves da
Costa
As
crianças, além de indefesas ante qualquer ato hostil, estão se tornando nas
principais vítimas durante as travessias das famílias fugindo das guerras e
outras atrocidades cometidas em seus países. As águas dos mares e oceanos estão
se transformando em cemitérios de pequeninos refugiados e as beiras das praias
em tristes epitáfios de inocentes. Assim aconteceu em 2015, quando o menino Aylan
Kurdi foi encontrado morto na beira da praia, na costa da Turquia, numa cena
que fez chorar o mundo, ou grande parte dele. Parecia apenas dormir, de bruços
sobre a areia, mas estava sem vida. E agora mais um pequenino é recolhido sem
vida no mediterrâneo após o naufrágio de uma embarcação. Este não tinha mais
que um ano e foi encontrado como um se fosse um bonequinho de plástico que boia
nas águas. Que cena mais triste, de uma crueldade espantosa, principalmente
conhecendo-se as barbáries humanas que acabam causando fugas desesperadas e
mortes de milhões de crianças, jovens, mulheres, velhos. Profundo é o relato do
socorrista que encontrou o corpo e fez o resgate: “Peguei o bebê pelo antebraço
e puxei o seu corpinho para os meus braços na mesma hora para protegê-lo... os
braços dele, com aqueles dedinhos, balançaram no ar, o sol bateu nos seus
olhos, brilhantes, acolhedores, mas sem vida”. Assim o relato da morte da vida
em flor. Anjos que as águas tomam para si, vidas cujo cais é não existir mais.
Mas a dor não está apenas na morte em si, mas pela forma como jogam pessoas às
águas e às fatalidades. Tudo como se a vida fosse barquinho de papel num mar
revoltoso.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário