*Rangel Alves da Costa
Era uma vez um corsário triste. E corsário
triste derrama mais lágrima que o mar. Viajante das distâncias dos sete mares,
de todos os oceanos e outras águas, fazia da pirataria uma fuga aos terrenos e
amorosos sofrimentos. Um dia, depois de um adeus sem explicação, chegou à beira
do cais, subiu no primeiro barco e desandou mundo afora. Acabou pirata,
corsário, tendo à mão cartas reais de saques e assaltos a embarcações, mas sem
que o ouro ou a prata sequer diminuísse seu íntimo sofrimento. Tinha, guardado
escondido, mais de baú cheio de riquezas e preciosidades, contudo resolveu de
tudo abdicar e se refugiar numa ilha deserta. Foi neste lugar hostil e ermo que
escreveu uma carta em folha de bananeira, colocou seu escrito numa garrafa e
depois a lançou às vagas a qualquer destino. A carta foi, muitos anos depois,
encontrada numa beira de praia, como se implorando estivesse para ser lida.
Dizia apenas: “A dor de um corsário triste é a mesma dor de barco sem água, de
navio sem proa, de bandeira sem brasão. De joias abdiquei, de riquezas me desfiz,
apenas para, neste refúgio de solidão, pensar e mais pensar em alguém que tanto
amei e ainda amo. Que a garrafa se quebre entre as pedras e a ventania abra
esta carta para que suas palavras sigam além, e muito além, e ela saiba que
escravo sou, ainda sou, do seu amor”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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