*Rangel Alves da Costa
Gosto mais do beijo do que beijo. Ou melhor,
gosto mais daquele beijo do que aquele outro beijo. Ou ainda, gosto mais do
verdadeiro beijo do que o beijo avidamente irreal. Sim, por que existem beijos
e beijos. O beijo solene, o beijo sublime, o beijo de amor, o beijo apaixonado
e o beijo que sequer é beijo, pois destrambelhado. Contudo, a compreensão do
beijo se dá da comparação entre o beijo sublime de amor e o beijo sugado,
chupado, esgalgado. De um lado, a doçura de aproximar o lábio e, lentamente,
sentir o calor do outro lábio. Tocar a pétala e sentir a flor, beijar o véu e
sentir a leveza, sentir a pureza da carne macia como num ato de devoção. Fechar
os olhos e caminhar, seguir, voar, traspassar espaços, ser folha e relva, ser
nuvem e pássaro, para, num toque, sair de si e por um instante sumir. Doce é o
beijo assim, amado, sentido, absorvido na alma e no coração. E depois, ao abrir
os olhos e novamente pousar rente ao chão, ainda trêmulo, dizer: te amo! Quanto
ao outro beijo, nego-me a descrevê-lo ante a singeleza do verdadeiro beijar. É
como se o lábio agora não precisasse nem paraíso nem de salvação, mas apenas de
ser docemente beijado.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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