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domingo, 28 de novembro de 2010

ATÉ UM DIA, ALEGRIA! (Crônica)

ATÉ UM DIA, ALEGRIA!

Rangel Alves da Costa*


Coisa que não gosto de jeito nenhum, de não suportar mesmo, é levar a vida como se ela fosse um fardo, envolto em preocupações, criando problemas onde não existe, achar que tudo é ruim, viver é uma droga e tanto fez tanto faz. Não. Muito pelo contrário. Que a paz e a felicidade estejam em mim agora e para a eternidade!
Contudo, nunca é demais perguntar quais os motivos que eu teria para ter alegria. Vou indagar sem medo das respostas: Sorrir de que, alegrar-se com o que, qual o motivo para contentamento?
Pelo que eu saiba, ao contrário do que ocorria no mundo mais primitivo, de pessoas mais simples, humanas e respeitosas, essas pessoas que vivem no mundo moderno, em pleno era da primazia do conhecimento, parecem ter esquecido conceitos básicos que deveriam ser a razão da vida em sociedade.
Ora, se a vida em sociedade é um contrato firmado intimamente pelas pessoas para conviverem em comunhão, tendo ainda o aparato legal do Estado para o caso de quebra desse contrato, não há como aceitar que estas mesmas pessoas se traiam e não cumpram do estabelecido moralmente, espiritualmente e socialmente.
A quebra desse contrato íntimo, interno, espiritual e necessário, firmado tacitamente, na fluência do pensamento, de pessoa para pessoa, é um verdadeiro desastre para a vida, para o convívio, para o estabelecimento da paz e da ordem.
Por exemplo, é inadmissível que um indivíduo ataque gratuitamente a honra de outro, quando sabe que este é digno e honesto e que este, nesta condição, jamais pensaria de praticar a mesma atitude. Ainda nesse passo, não tem cabimento algum a intensa busca de fazer o mal, de tentar atingir os outros, somente para fazer aflorar o instinto desumano da maldade.
Acaso seja perguntado às pessoas que estão ao lado, mais adiante ou mesmo muito distante, quais as principais virtudes que um ser humano deve ter logo chegarão mil respostas: honra, dignidade, moral, respeito, obediência às leis e aos princípios que regem a sociedade, decência, prática do bem, fé, esperança, fazer caridade, amar a Deus, amar o próximo como a si mesmo, humildade e muitas outras.
Contudo, se for pedido a estas mesmas pessoas que digam com suas próprias palavras o significado e a aplicação de apenas três das muitas virtudes que citaram, dificilmente se obterá uma resposta satisfatória ou até nenhuma resposta. E se ainda for perguntado se praticam sempre ações que correspondam a essas virtudes então surgirá imediatamente o pecado da mentira.
Diante de fatos como estes, não há como sentir alegria. Ademais, longe de serem suposições, são verdades que afrontam o olhar, apertam o coração e colocam as pessoas de bem ainda existentes no drama de não querer acreditar que tudo isso por estar ocorrendo.
As práticas são cotidianas e não deixam mentir. São esses mesmos que dizem conhecer as virtudes, frequentam cultos de pastores duvidosos, vivem dizendo que fazem o bem, são poços de caridade e de bom proceder, que ostentam nos corações as bandeiras das iniqüidades, das maldades, das desonras da vida e dos pecados do mundo.
Ademais, o pão está muito caro, as filas parecem intermináveis, as balas perdidas continuam ceifando vidas, as violências estão dentro e fora de casa, as buzinas não permitem mais que se ouça o canto dos passarinhos, há uma chaminé de fábrica bem no lugar onde o sol se põe, os jornais já chegam com curativos e outro dia um, de tão violentado que estava em suas páginas, não suportou o baque e morreu quando o jornaleiro jogou-o pelo portão.
Não sou cético nem pessimista, mas também não posso ter motivos para alegria. Quem teria motivos, afinal? No mundo cão em que nos confinamos para viver, quem teria motivos, afinal?



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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