O CAÇADOR DE DINHEIRO
Rangel Alves da Costa*
Não é lorota não, pode acreditar, mas já conheci uma pessoa que caçava dinheiro. E quando digo caçava não é no sentido de fazer trambicagens, estelionatos ou outras formas ilícitas de se ganhar dinheiro e cadeia fáceis não, mas é realmente na concepção de sair por aí, despreocupadamente, procurando dinheiro perdido.
Ele não tinha nenhuma necessidade de fazer isso, pois era pessoa trabalhadora, séria, amigueira e com todas as funções mentais funcionando normalmente. Ao menos era isso que eu sempre pensava.
Ademais, se quisesse até que poderia dar esmolas, ajudar a um a outro, que ainda não diminuía as suas posses. Nem era sovina, mão-de-figa, daqueles que não dão um aceno que é pra não abrir a mão. Pelo contrário, era um gastador na medida certa.
Mas não sei por que cargas d'água o rapaz, mais do que homem feito, de repente deu pra ter o estranhíssimo hábito de sair por aí catando de dinheiro. Segundo um dia o próprio me contou, não havia nada de estranho naquela prática, pois estava apenas ajudando a própria sorte.
Como tinha sorte demais para encontrar moedas e notas ao deus-dará, então nada mais justo que juntar a sorte com um pequeno esforço, e assim sair por aí olhando para os lugares esquecidos em busca do pequeno tesouro.
De início, o catador de dinheiro simplesmente aproveitava seus instantes de folga e saía caminhando pelas ruas, praças, jardins e descampados, esticando o olhar mais que o normal pelos cantos, pelo chão, pelas muretas, debaixo dos bancos, próximo às aglomerações de pessoas, no meio da feira e principalmente ao final desta.
Em todo canto, toda brecha, em cada escondidinho e lá estava ele olhando, depois se aproximando e remexendo com o pé para ver se ali havia alguma moeda ou nota perdida. De vez em quando se abaixava e colocava a mão para afastar uma pedra ou papelão, sempre na esperança e expectativa de encontrar dinheiro.
Com o tempo passando, esse meu amigo foi aprimorando suas técnicas de procurar caçador. Assim, quando era dia feira pegava uma sacola e seguia em direção aos barracos, bares e multidão. Ficava por ali como quem não queria nada, mas só de olho no chão. De vez em quando era visto afastando uma coisa ou outra com o pé, abaixando e revirando o que encontrava.
Contudo, a feira em si, no seu auge de compra e venda, não interessava muito ao rapaz não. Ia ali só pra arriscar. Segundo ele, o filé mesmo era quando a feira acabava, os bêbados iam saindo dos bares, o povo já tinha metido a mão no bolso muitas vezes. Aí era certeza de encontrar moedas e notas caídas pelo chão.
Fazia o mesmo nos dias de festas e bailes. Quando a multidão se dispersava para ir embora, e lá ia ele parecendo que tinha adormecido e perdido parte da festança. Então fazia a ronda pelas ruas, embaixo das mesas e cadeiras, ao lado de postes, nos banheiros, calçadas e meio-fios. Não tinha lugar que o homem não procurasse dinheiro. Mas achava. De vez em quando o danado sorria e colocava alguma coisa no bolso.
Certa vez, no fim de uma festa, achou um pacote com drogas e colocou no bolso. Foi seu erro maior. Até que se explicasse bem à polícia porque estava com as pedras de crack sofreu um bocado e foi informado que só seria solto se pagasse fiança.
Acabou gastando o dinheiro todinho que achava e guardava. Depois desse dia nunca mais saiu para caçar tostão. Mas quando via uma moeda ou uma nota caindo no chão começava a chorar de se acabar.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Como se diz aqui em MG: cada doido com sua mania. rsrs. Muito legal! Abraços. Paz e bem.
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