SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

DEIXE A NOITE LÁ FORA!... (Crônica)

DEIXE A NOITE LÁ FORA!...

Rangel Alves da Costa*


Num livro de poesias que publiquei em 1994, intitulado "Todo InVerso", fiz constar um poema que gostei muito de ter recebido inspiração para escrevê-lo. Cuida da noite, cuida do abandono, cuida do silêncio, cuida desses muitos meninos que têm a lua como telhado e diz assim:

Destino da noite
É rua deserta
Lua sobre telhados
Portas e vidas fechadas
Silêncio que guarda
Todos aqueles
Que podem sonhar

Não tem esse destino
Aquele menino
Da rua incerta
Lua sobre marquises
Porta e vida abertas
A qualquer desatino
Que apaga de morte
Um sonho pequenino
Com outro destino
Menino.

A noite, porém, não é somente essa noite poética, mesmo que na poesia estejam expressas as angústias de um outro tipo de noite, que é aquela que toma e envolve os meninos durante o sol mais radiante. Há noites demais nos dias desses meninos. As noites são muitas...
E são muitas as noites que por si só já serviriam para que determinadas pessoas não vivam recolhendo escuridões para juntar dentro dos seus espíritos sem lua e sem luz. Por mais que saibam quanto doem as tristezas, as angústias e as desesperanças, ainda assim procuram apagar a luz brilhante das coisas boas e transformar em noites dentro de si.
Para essas pessoas, toda hora é hora de vagar pelos labirintos escurecidos de suas noites. Não há contentamento em nada porque a noite é triste; não há esperança em nada porque a noite faz surgir o pior; não há procura de luz porque o costume com o pior as fez jogar as chaves da felicidade lá fora. Talvez na luz do dia, que ainda assim não querem enxergar.
Quantos desses meninos que vagam por aí na escuridão, sem qualquer raio de luz, gostariam de ensinar a essas pessoas como acender a lâmpada do sorriso, fazer bem cheia e bem nova a lua da vida, abrir a janela para deixar o sol entrar?
Esses meninos sabem o valor de uma luz, mesmo que tenham tido somente noites em seus dias. E sabem ainda mais que as noites verdadeiras devem ser aproveitadas para o amor, para dormir e sonhar, para olhar a lua lá em cima e dizer o quanto é bela a luz em meio a escuridão.
Deixai, pois, deixai a noite lá fora...




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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