BESTEIRAS QUE A GENTE FAZ
Rangel Alves da Costa*
Não adianta, é próprio do ser humano se arvorar de que já tem experiência na vida, possui conhecimento sobre o mundo, procura agir dentro dos parâmetros das melhores condutas, da ética e da moralidade, mas no momento de colocar as virtudes na balança ela sempre pende para o animalesco.
É também próprio do ser humano querer ser o melhor, o campeão de tudo, o mais sábio, o mais perfeito, o mais correto. Tem-se como espelho irretocável e vive criticando os outros por qualquer erro ou desvio cometido. Mas isto é inconcebível numa pessoa como aquela, logo diz.
Mas não tem jeito mesmo, possa ter anel de doutor no dedo, ser analfabeto de pai e mãe, ser PhD em Física Quântica, morar no buraco mais escondido do Alto Xingu, ter docência na Harvard de Ética Humana e Profissional, ser pessoa que mal sabe falar ou entender qualquer coisa, mas sempre fará besteiras pela vida.
Fazer besteiras, que nada mais é do que falar e fazer coisas sem sentido, bobas, desnecessárias, deseducadas, incompreensíveis e sem fundamentos, somente para fazer despertar o espírito naturalmente bestial do ser humano, é prática que se arraiga desde o Vaticano até universidades, palácios, centros de poder, assembleias, escritórios, ruas, casas, palafitas e em cada um consigo mesmo.
Infinitas são as besteiras que, consciente ou inconscientemente, os seres humanos fazem na vida. Muitas vezes, no segundo seguinte ao ato ou mesmo muito mais tarde, o próprio indivíduo, se tiver respeito próprio e consciência para tal, irá se perguntar: "Por que fiz isso?"; "Será que fiz isso mesmo?"; "Não acredito que fiz isso!".
Mas fez e faz, continua e continuará fazendo, pois o ser humano parece ter no ato de fazer besteiras uma necessária revelação de sua verdadeira identidade. O ego, coitado, que não tem culpa de nada, então deixa que os ânimos do seu dono passem a dizer, sem disfarces, quem ele verdadeiramente é.
Daí aquele que até ontem era profissional trabalhando em nível dos demais, quando alça uma posição de mando ligeiramente superior quer tratar seus ex-companheiros como se fossem inimigos, escravos, perseguindo-os e querendo a todo custo retirá-los do mercado de trabalho.
Daí que existem certos juízes de direito e promotores que se acham deuses, superiores em tudo, os donos da absoluta verdade, e não cumprimentam nem falam com advogados e defensores e só dirigem a palavra para os coitados da vítima e do réu porque são forçados a tal. Porém muitos deles perguntam sem ao menos olhar no rosto.
Daí que as pessoas andam pelas ruas parecendo que estão em campo de guerra, desafiando e querendo agredir quem olhar para elas, vendo e tratando todos como se fossem os piores inimigos, empurrando quem passar ao seu lado, fazendo sempre do outro algo indigno do mínimo respeito e consideração.
Daí existirem pessoas que acham que os outros devem suportar seus estágios de humor, suas "luas", suas crises e revoltas; e vizinho só dá bom dia ao outro quando a "lua" permite; encontra ao lado da porta e nem dá um bom dia ou pergunta como está passando; age com falsidade e tem aquele que mora ao lado ou do outro lado sempre como inferior.
Daí existirem pessoas que sorriem da desgraça alheia, jamais estendem uma mão para ajudar quem está caído, não respeita e nem procura facilitar a vida dos doentes e mais idosos, não dão um pão nem um copo de água mesmo tendo certeza que o outro está com fome e sede.
Daí existirem pessoas que só ensinam de maneira errada se o outro pergunta onde fica tal rua ou tal loja; passam defronte às casas e chutam a lixeira e apertam a campainha; zombam da cor, da roupa, do estado do próximo; humilham por humilhar.
Daí existirem pessoas que não merecem viver. O pior é que muitos vivem na reincidência, só vivem para fazer o mal, para denegrir e destratar o próximo, para fazer besteiras.
A sapiência bíblica ensina e é induvidosa: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo". E acrescento, "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã".
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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