O ROUBO DO SORRISO DA MENINA – 9
Rangel Alves da Costa*
"Filhinha, pelo amor de Deus, o que você está fazendo aí?". Perguntou a mãe aflita, enquanto o pai já se jogava no chão e olhava para debaixo da cama.
"Venha, venha cá filhinha, é papai que está aqui lhe chamando, venha!". Falava Paulo, deitado no chão, olhando Lucinha toda encolhidinha lá no meio e esticando o braço para alcançar a menina.
Não teve jeito dela querer sair dali, continuando com um choro baixinho e persistente. Foi preciso que Paulo e Nadir levantassem a cama com as mãos, colocando mais de lado, para que ela fosse alcançada e levantada do chão.
"Mamãe jogue essas flores lá fora e diga a elas para não aparecerem mais aqui...". Disse Lucinha assim que sua mãe a levantou e segurou nos braços. Os pais não compreenderam de imediato as palavras da menina, mas olharam para o chão, bem no local onde estivera deitada, e viram rosas murchas estendidas. Mas que coisa mais estranha, pensaram.
E quando Paulo se dirigiu até o local para recolher as flores murchas, ao erguê-las percebeu que mesmo com a aparência bastante deteriorada das pétalas, ainda assim continuavam inteiras e percebia-se que eram rosas pela imponência que parecia não morrer jamais.
"Jogue logo essas flores, papai. E bem longe que é pra elas não voltarem mais aqui". Disse a menina tristonha nos braços da mãe. "Vá, vá logo Paulo, faça o que ela pediu e depois volte rápido para cá que precisamos ter uma conversa muito importante". Falou Nadir, expressando agora um certo temor e uma reconhecível preocupação.
Será que minha Lucinha está enlouquecendo? Perguntou a si mesma, deixando cair pelo canto do olho uma lágrima teimosa. A menina não podia ver aquele início de pranto de jeito nenhum. Não naquele momento, quando precisava estar ao menos aparentando firmeza para enfrentar o que viesse pela frente.
Assim que o pai retornou, a primeira coisa que Lucinha perguntou foi onde ele tinha jogado as rosas. "Entreguei ao jardineiro e mandei que ele fosse bem longe, perto de um algum lixão, para jogar aquelas flores murchas por lá. Mas me diga uma coisa minha filha, porque essa preocupação toda com as flores já sem vida e sem cor, que daqui há instantes não restará mais nada delas?". Respondeu o pai, indagando.
"É que elas me fazem ficar triste...", disse Lucinha em seguida. "Mas como assim, minha filha, pode explicar a gente, bem calmamente?", perguntou Nadir, chamando Paulo para sentar ao seu lado.
A menina desceu dos braços da mãe, caminhou até a janela e olhando para fora, para o jardim, começou a falar com uma voz que parecia soprada no vento, leve e distante:
"Aquelas flores não gostam de mim. Aquelas flores já morreram e voltaram aqui, não queriam sair do meu quarto porque não gostam de mim. Aquelas flores não podem fazer mal às outras flores do jardim porque a força da natureza existente ali impede que façam isso, então elas vieram para o meu quarto para exigir que eu destrua todas aquelas flores do meu jardim. Como eu disse que não ia fazer isso de jeito nenhum, então elas disseram que eu, além de nunca voltar a ter alegria, passarei a ter elas no meu quarto dia e noite, me atormentando, até que eu faça o que elas querem, que é matar as outras flores...".
A mãe não podia mais esconder as lágrimas e chorava com a cabeça no ombro do esposo. Foi quando este perguntou: "Mas porque essas rosas querem que você destrua as outras flores, filhinha?".
"Porque alguma coisa do jardim, podendo ter sido uma flor, uma planta, um bicho ou um passarinho, matou elas. Segundo elas mesmas me disseram, não morreram por morte natural ou por qualquer praga, mas foram mortas de verdade. Então como elas já tinham inimizade com as outras flores e não sabem ao certo quem causou a desgraça, então querem que eu destrua todas as flores. É uma vingança das rosas através das minhas mãos, papai. E isso eu não vou fazer nunca, nem com minhas flores nem com nada nessa vida... Tudo só é bonito vivendo! Tudo só é importante vivendo! A vida é tudo papai!...".
E o pai completou: "É filhinha, a vida é tudo!". Levantou, foi até perto dela e deu um abraço apertado. Em seguida fez mais uma pergunta: "E que história de tristeza é essa?".
"Só quem podia responder isso eram as rosas, mas elas não estão mais aqui. Elas não vão voltar mais aqui, não é papai?".
continua...
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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