Rangel Alves da Costa*
As Sagradas Escrituras estão cheias de
referências aos lírios, sendo a mais conhecida aquela passagem do Evangelho de
Mateus, quando diz Jesus: Olhai os lírios do campo; eles não trabalham nem
tecem; no entanto eu vos digo: nem mesmo Salomão, em toda sua glória, não se
vestiu como um deles.
Mas também em Cânticos 5:13: “As suas faces
são como um canteiro de bálsamo, como flores perfumadas; os seus lábios são
como lírios gotejando mirra com doce aroma”. E ainda: “O meu amado desceu ao
seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para apascentar nos jardins e para colher
os lírios. Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele apascenta entre os
lírios” (Cânticos 6:2,3).
Quanta simbologia possui os lírios dos
campos. Não são apenas as plantas que fazem germinar tão belas flores, nem as
próprias flores alongadas, esbranquiçadas, alaranjadas, avermelhadas, rosáceas,
violáceas. Desnecessário até que se caminhe pelos campos, pelos vales, jardins
e canteiros, para encontrar sua magia. Basta a visão mental, o enxergar dos
sentimentos, para que seja possível encontrar aqueles lírios do Evangelho de
Mateus.
Olhai os lírios dos campos, nem mesmo Salomão
se vestiu como um deles, disse Jesus. E o Senhor, dentre todas as espécies,
todas as plantas e todas as flores, não iria reverenciar os lírios por acaso. O
fez pela sua nobreza, pela sua beleza, pela sua imponência onde frutifica e
cresce. Há um Jesus jardineiro que reconhece a grandeza de sua criação. E, sem
menosprezar as demais espécies, dignificou aquela que simbolizaria a pureza e a
graciosidade da vida.
Mas os lírios são apenas lírios, apenas
plantas. Suas vestimentas é que as tornam majestosas e de inigualável beleza.
Eis o bálsamo ao coração do homem: depois de cortar estradas, padecer pelos
caminhos, sua visão se depara com um campo florido onde, na aragem do dia ou no
leve sopro do entardecer, as flores docemente valseiam serenas e fazem exalar
pelos espaços o perfume bom da criação divina.
Mas os lírios são apenas lírios, apenas
espécies da flora. E são plantas nuas, simples, com hastes e ramificações que
em nada diferenciam das demais espécies que se espalham pelos campos e vales.
Então, igualmente o brilho dourado e os diamantes que adornam a coroa real, e que
simplesmente encobrem o latão, surgem as flores para vestir os lírios de beleza
sem igual. Por isso que nem mesmo Salomão, em toda sua glória e riqueza, jamais
se vestiu com tamanha nobreza.
Tal nobreza até que poderia transformar o
lírio florido numa planta vaidosa, soberba, de altivez repulsiva. Mas não há
planta que exale outro perfume que não o aroma aos sentimentos de quem a
encontra. Olhai a beleza da rosa primaveril que se abre em pétalas para o olhar
apaixonado. Olhai a nobreza do girassol, tão dourada e tão graciosa, mas que se
enfeita apenas do raio de sol para encantar a vida. E com o lírio não é
diferente: a essência da airosa pureza onde possa ser avistada.
Na minha mente, no meu pensamento em viagem,
avisto o lírio e avisto a folha da relva do poema de Whitman. Em meio à relva,
em meio às folhas da relva, os lírios tremulam leves e adornam a paisagem de
paraíso. Não alcançarei este momento mágico de mãos dadas com minha amada,
certamente que não, mas deito à relva de caderno à mão para escrever o singelo
poema:
Sobre os vales e os campos
onde alcançam meus olhos
sobre a relva e os canteiros
que conhecem meu passo
avisto-me como Rei Salomão
ajoelhando-me em reverência
à verdadeira nobreza da vida
num pedestal adornado de flores
de pétalas de flores dos lírios.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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