Rangel Alves da Costa*
Vejo a parede nua e recordo-me do retrato
antigo. Certamente não é a prede de minha casa. Nesta não há apenas retratos
antigos, amarelados, emoldurados pelo tempo e pela madeira, mas verdadeiros álbuns
por todo lugar. Por isso mesmo que entristeço quando encontro uma parede nua,
sem um olhar antigo, sem uma face do passado, sem o vidro já embaçado de tanto
resguardar a memória. Quem ama os seus – e ainda que se sofra por causa disso –
jamais faz da terra ou do paraíso um destino final. Continua acolhendo no
coração, na saudade, na memória, e também na parede. Ali um pai, ali uma mãe,
ali um avô ou uma avó, ainda tão presentes que parecem apenas repousando num
entardecer de descanso. Um pai ainda jovial, mas ele nunca deixou de ser jovem;
uma mãe sorridente, mas ela nunca deixou de ser sorridente. Os olhos fixos
adiante olham na direção de quem sente suas presenças. As feições são as mesmas
do último encontro. E agora separados pelo destino, não há como não desejar o
reencontro pelo olhar, pelo sentir, que amor que permanece vivo. E algum dia,
num dia tão próximo ou longínquo, ali também outro retrato. O meu, o seu, o de
quem não deseja ser esquecido após o adeus final.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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