Rangel Alves da Costa*
Toda sentinela de adeus é triste. Ao menos
deveria ser acaso as tradições não fossem transformadas ao bel-prazer dos
modismos. Hoje praticamente não há mais sentinela nos centros urbanos. O
falecido é levado ao velatório e depois de algumas formalidades encaminhado ao
cemitério. Muito diferente de tempos atrás, onde ainda havia despedida com
direito a lágrimas, ataques, desmaios, inconformismos, discursos, elogios e até
partilhas ao pé do caixão. Tornou-se raridade, mas nas lonjuras nordestinas
ainda se proporciona uma despedida decente e ao modo dos antepassados. Nas
distâncias sertanejas ainda se reverencia o morto com todas as honrarias
matutas. Os amigos logo chegam, choram a despedida, tecem recordações de
amizade e permanecem pela noite inteira e madrugada adentro na residência do
pranteado, só que do lado de fora, ao redor de fogueiras, bebendo o morto. Lá
dentro, ao redor do caixão, iluminados pelas velas que crepitam entristecidas,
familiares e amigas, principalmente as mais idosas, entoam cantos fúnebres até
o momento da partida. A sentinela de adeus se transforma então no ecoar
aflitivo e triste de ladainhas e rezas de encomendação da alma. Os cantos são
tão compassados e melancólicos que tudo ao redor parece se transformar num
manto de dor. As velas chamejam, os lenços são levados aos olhos, os olhos
descem sobre o caixão, a boca se abre para a ladainha, e assim a estrada do
falecido vai sendo aberta rumo ao lugar merecido. Até que o sol surge para
mostrar olhos já quase sem lágrimas para molhar a terra enquanto a pá vai
jogando areia sobre o caixão.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário