Rangel Alves da Costa*
A falta de saúde mental raramente é
compreendida. O portador de distúrbio da mente geralmente é visto como
perigoso, como um desajuizado que a qualquer momento pode provocar uma situação
dolorosa a um indefeso. Assim mesmo acontece, mas não costumeiramente. Apenas
numa situação ou outra, num instante de afetação maior do juízo, o insano passa
a desconhecer a própria realidade que o rodeia. Tem-se, pois, que a maioria dos
mentalmente perturbados é formada de pessoas dóceis, compreensivas, calmas, amigas.
Conheci um doido que tornava seu distúrbio num espelho a muitos que se diziam
ajuizados. Era um apaixonado, um poeta, sempre contagiado pela alegria, um ser
realmente diferenciado. Dizia ser namorado da lua cheia e subia na pedra grande
com flores do campo à mão. E para ela recitava versos misturando areia e chuva,
barro e arco-íris. Dizia que estava construindo um par de asas e que não
demoraria muito para subir até lá e beijar na boca de sua amada. E assim
permanecia até a alva do dia. E quando a lua ia sumindo, se escondendo, então
um pranto brotava na sua face aflita. Em meio a lágrimas sempre se despedia
dizendo: se não voltar logo subo na montanha e de lá, com as asas que guardo
escondidas, lhe alcanço num só instante. E nunca mais saiu de pertinho do seu
cangote...
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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