SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Palavra Solta: as doces doidices do doido


Rangel Alves da Costa*


A falta de saúde mental raramente é compreendida. O portador de distúrbio da mente geralmente é visto como perigoso, como um desajuizado que a qualquer momento pode provocar uma situação dolorosa a um indefeso. Assim mesmo acontece, mas não costumeiramente. Apenas numa situação ou outra, num instante de afetação maior do juízo, o insano passa a desconhecer a própria realidade que o rodeia. Tem-se, pois, que a maioria dos mentalmente perturbados é formada de pessoas dóceis, compreensivas, calmas, amigas. Conheci um doido que tornava seu distúrbio num espelho a muitos que se diziam ajuizados. Era um apaixonado, um poeta, sempre contagiado pela alegria, um ser realmente diferenciado. Dizia ser namorado da lua cheia e subia na pedra grande com flores do campo à mão. E para ela recitava versos misturando areia e chuva, barro e arco-íris. Dizia que estava construindo um par de asas e que não demoraria muito para subir até lá e beijar na boca de sua amada. E assim permanecia até a alva do dia. E quando a lua ia sumindo, se escondendo, então um pranto brotava na sua face aflita. Em meio a lágrimas sempre se despedia dizendo: se não voltar logo subo na montanha e de lá, com as asas que guardo escondidas, lhe alcanço num só instante. E nunca mais saiu de pertinho do seu cangote...


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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