Rangel Alves da Costa*
Um dia, talvez num tempo ido, houve uma
manhã, e com ela um quintal e um pomar. Hoje é muito difícil encontrar manhãs.
Poucos acordam para abrir a porta de trás, abrir a janela ou avistar a primeira
cor do dia pela fresta da telha ou do casebre de barro. As manhãs de hoje são
feias, apressadas, já nascidas na dureza do dia. Saudade de um tempo onde antes
de o galo cantar e os pés já caminhavam em direção ao quintal ou do oratório.
Os primeiros afazeres do dia eram de reencontro, de fé e de abraço à natureza.
Abrir a porta de um quintal significa encontrar o próprio mundo. E no mundo sertanejo
ou nas cidadezinhas interioranas, todos de um bucolismo de Deus, era ali nos
primeiros instantes da alva que os olhos mais se alegravam, o coração mais
enternecia, os sentimentos de pertencimento floresciam. Um quintal muito
simples, apenas um cercado que ia quase fazer fronteira com a mataria, mas de
riqueza indescritível. Ali os pés de goiaba, de manga, de graviola, de
jabuticaba. Nas estações propícias, os frutos amarelados, avermelhados, de
todas as cores, quase que se lançavam às mãos, quando não caíam de tão maduros.
Fruta boa de comer ali mesmo, de deixar o sumo doce escorrendo pelos cantos da
boca. Não há fruta melhor que a de quintal nem vida mais prazerosa de se viver
que aquela ao redor de pomar. E tudo na moldura da manhã e de um viver tão
singelo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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