Rangel Alves da Costa*
De um lado o silêncio e de outro a voz. Uma
casa ora de porta aberta ora de porta fechada. Uma feição sorridente, mas
depois entristecida. O olhar de pranto que logo se revela aberto ao sol. Uma
fronteira ultrapassada, uma margem rompida. Assim o silêncio, assim a voz. As
palavras soltas, ávidas por expressão, por ecos e sons, mas a inércia no lábio
e o adormecimento da boca. A voz possui seus motivos para silenciar. Muitas
vezes o espanto esconde o grito, a dor esconde a palavra, o instante não sabe o
que dizer, o pensamento continua escolhendo a melhor expressão. Enquanto isso,
apenas o silêncio torturante querendo falar. Ou a voz cansada de dizer querendo
calar. Eis o sofrimento maior da palavra: adormecida no silêncio e abruptamente
despertada pela expressão, pelo grito, pelo murmúrio. Dependendo da situação,
preferia jamais pronunciar qualquer coisa. Ademais, coisas existem que não
precisam de palavras: o amor, o carinho, a amizade, a afeição. Dizer que ama,
que sente é amigo ou possui profunda afeição, nem sempre se expressa tão
verdadeiramente quanto o apenas ser nem nada dizer. A existência não necessita
da voz à mesma proporção que precisa do silêncio. Este reflete o sentimento do
ser. E o que o homem sente jamais é expressado na mesma proporção do sentir.
Por isso cale, silencie, mas sinta. Sentimento é palavra e tudo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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