SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Palavra Solta: o quintal da Velha Quiméria


Rangel Alves da Costa*


A Velha Quiméria é sertaneja, e dum sertão distante, esturricado, esquecido. Bastaria tal informação para saber que o quintal da velha é bastante diferenciado de outros quintais, acaso ainda existentes. A verdade é que somente nas regiões interioranas é possível abrir a porta dos fundos e se deparar com a essencialidade de uma moradia: o quintal. Alguém já disse que o quintal é a antessala da mata, da floresta, da roça, da mataria. Acredita que seja mesmo, mas quando um quintal autêntico. E como o da Velha Quiméria. Bicho, árvore, planta, farmácia, sombreado, magia, encantamento, tudo isso no quintal da sertaneja. Talvez seja sua solidão que a faz tão devotada ao seu pedaço de chão após a porta detrás. Desde que o marido se despediu dessa vida, a velha outra coisa não faz senão cuidar do quintal. Por isso mesmo que ali tem de tudo. Remédio para doença pode ser encontrado nos pés de açafrão, mastruço, hortelã, boldo e um monte de outras plantas medicinais. Goiabeira, mamoeiro, mangueira, jabuticabeira e tantas outras árvores frutíferas fazem do quintal um verdadeiro pomar. Galinha, galo, guiné, gato, tudo isso se espalha e divide espaço no quintal. Ao amanhecer as frutas maduras estão caídas ao chão, os ovos se acumulam no galinheiro, as flores brilham ao primeiro sol. E em meio a tudo um varal sem roupas, mas embalando tantas histórias de uma vida que não dá um passo adiante da porta antes de agradecer a Deus pela dádiva da existência. E também do quintal.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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