Rangel Alves da Costa*
A Velha Quiméria é sertaneja, e dum sertão
distante, esturricado, esquecido. Bastaria tal informação para saber que o
quintal da velha é bastante diferenciado de outros quintais, acaso ainda
existentes. A verdade é que somente nas regiões interioranas é possível abrir a
porta dos fundos e se deparar com a essencialidade de uma moradia: o quintal.
Alguém já disse que o quintal é a antessala da mata, da floresta, da roça, da
mataria. Acredita que seja mesmo, mas quando um quintal autêntico. E como o da
Velha Quiméria. Bicho, árvore, planta, farmácia, sombreado, magia,
encantamento, tudo isso no quintal da sertaneja. Talvez seja sua solidão que a
faz tão devotada ao seu pedaço de chão após a porta detrás. Desde que o marido
se despediu dessa vida, a velha outra coisa não faz senão cuidar do quintal.
Por isso mesmo que ali tem de tudo. Remédio para doença pode ser encontrado nos
pés de açafrão, mastruço, hortelã, boldo e um monte de outras plantas
medicinais. Goiabeira, mamoeiro, mangueira, jabuticabeira e tantas outras
árvores frutíferas fazem do quintal um verdadeiro pomar. Galinha, galo, guiné, gato,
tudo isso se espalha e divide espaço no quintal. Ao amanhecer as frutas maduras
estão caídas ao chão, os ovos se acumulam no galinheiro, as flores brilham ao
primeiro sol. E em meio a tudo um varal sem roupas, mas embalando tantas
histórias de uma vida que não dá um passo adiante da porta antes de agradecer a
Deus pela dádiva da existência. E também do quintal.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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