Rangel Alves da Costa*
As velas se recolhem, os barcos são
aportados, os pescadores e viajantes se dispersam, o cais vai expressando um
aspecto de solidão. O sol vai se pondo, o amarelo-avermelhado vai tomando conta
do horizonte, a revoada faz seu caminho certeiro, a brisa dá lugar a um vento
mais forte e constante. Pelo ar se misturam um cheiro marinho e de conchas
frescas que são trazidas das águas. O zunido do vento parece canção distante,
os coqueirais se embalam enquanto suas palhas farfalham em valsa. As ondas
avançam e voltam, as pedras molhadas parecem vernizes derramados por cima de
tudo. O silêncio não consegue se impor ante o barulho das ondas, os zunidos que
passam na ventania e o canto da sereia ao longe. Uma concha ouve um segredo do
vento, um caranguejo se entoca na areia. Está com medo dos passos que surgem
mais além. As pegadas vão cortando a areia lentamente. Alguém caminha na
fronteira das águas. Pés descalços, misteriosamente surgidos, seguem em direção
a uma pedra. Senta por um instante, mas em seguida segue seu rumo de cais. Leva
uma flor à mão e um olhar molhado e entristecido. Mira a distância das águas
como se quisesse avistar algo que desde muito espera. Mas apenas um vulto de um
barquinho ao longe. A mão solta a flor e uma lágrima se mistura às ondas. Já
está tudo sombreado, quase noite. E a lua encontrará uma carta de despedida
deixada na areia.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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