Rangel Alves da Costa*
Namoro na infância era um verdadeiro percurso
aflitivo, ainda que gostoso demais de ser vivenciado. Tanto o menino como a
menina despertava para o amor, mas os impedimentos e as dificuldades surgiam de
todo lado. Se os pais da menina ao menos sonhassem que o seu coração andava
palpitando mais que o normal, era certeza de surra bem dada. Com o menino não
era muito diferente. A mãe logo dizia que cuidasse de crescer para pensar em
olhar para as filhas dos outros. “Vá tirar o fedor de mijo, moleque”, era a
ressonância. Mas ele estava apaixonado. E ela também. Ele jogava bilhetinho
pela janela, lançava beijos ao vento, deixava uma florzinha num lugar onde ela
pudesse avistar. Ela chegava a ficar avermelhada toda vez que ele passava ao
redor com aquele olhar pidão. Mas nenhum tinha coragem de se manifestar. Sempre
havia uma amiga que levava e trazia recados, marcava os encontros jamais
realizados. Até que um dia, pelos acasos da vida, ele se vê frente a frente com
aquela flor de seus sonhos. E agora? Tímido demais, a verdade é que emudecia
quando a palavra certa já tinha sido pensada e repensada. Escreve rapidamente
um bilhetinho e passa quase correndo pela menina, mas com o cuidado de deixá-lo
na sua mão. “Quer namorar comigo? Se quiser basta sorrir”. E ela sorria sem
disfarce. Então ela se encorajava para chegar junto dela, olhar no azul daquele
mar imenso, silenciosamente aproximar o seu lábio daquela fruta de sonhos e
beijar levemente. Subir aos céus, subir aos céus. Quando os olhos se abriam
havia um encantamento tal que nenhuma magia do mundo se mostrava com tamanha
beleza. O amor, o amor, o amor...
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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