Rangel Alves da Costa*
As ruas andam tristes, chorosas, de lenço à
mão. Sou de um tempo onde as ruas possuíam uma feição diferente. Recordo ruas
com cadeiras nas calçadas, pessoas conversando, amigas cuidando da vida alheia,
idosos nos seus ofícios de pinicar saudades. Ruas com casas de portas e janelas
abertas, cachorros e gatos entrando e saindo, meninos surgindo em correria para
a brincadeira pelos arredores. Mesmo em noites sem lua as ruas eram mais alegres,
mais convidativas. Mesmo já tarde da noite e pessoas – boêmios, poetas da lua,
noctívagos errantes – no seu passo estrelado. Mesmo nas noites chuvosas as ruas
possuíam vida e pulsação. Mas agora tudo tão diferente, tudo tão feio e triste.
As portas e janelas fecharam-se, as pessoas e vizinhos sumiram, as vozes
calaram, e restou somente o medo. Hoje as ruas são do medo, da violência, da
brutalidade, do desmedido perigo. Ninguém pode mais sentar sossegado à porta,
ninguém pode mais se posicionar numa janela para uma fofoca com a vizinha,
ninguém pode mais sair num rápido passeio com seu bicho de estimação, ninguém
pode mais ir até ali e voltar já. Basta colocar o pé do lado de fora e o perigo
já começa a rondar. Não há segurança, não há paz, não há sossego. O que agora
há são ruas tristes, melancólicas, perdidas num vazio de solidão. As pessoas
entrincheiradas nas suas casas e elas, as ruas, entregues aos passos do medo.
Triste, muito triste que assim aconteça. Mas são os tempos novos que tomaram as
ruas de seus verdadeiros habitantes.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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