Rangel Alves da Costa*
Não sei se já perceberam, mas a cadeira de
balanço possui uma profunda significação. Sua simbologia é tamanha que logo
remonta a recordação, a tempos idos, a avôs e avós, a velhas senhoras se
embalando rente ao umbral da janela ou mesmo debaixo dos sombreados dos
arvoredos lá fora. Sei de muitas histórias sobre cadeiras de balanço e seus
assentos. O Velho Titonho colocava a sua na calçada, lançava mão de canivete e
de palha de milho, aprontava um cigarro de fumo e começava a dar baforada pelo
ar. Em seguida falava sozinho a se danar. Dizia que homem mesmo era Getúlio,
que ainda ia dar o troco ao que fizeram com Juscelino, que havia sido ele quem
havia aconselhado a não colocarem camisa-de-força em Jânio, mas o homem era
maluco mesmo. Já a Velha Florzinha tinha um procedimento todo especial quando
queria chorar relembrando o passado. Mandava que o neto colocasse a cadeira
embaixo do tamarineiro da malhada e depois se espalhava toda para pensar na
vida. Pensava na vida sim, mas não nessa. Então começava a relembrar de seus
defuntos, de seus antepassados, de um tempo já amarelecido e sem uso. A cada
pensamento uma lágrima, a cada feição que surgia um rio correndo pela face enrugada.
A noite caía em ela ainda navegando num rio de tristezas sem fim. Noutra casa,
numa sala escura, a cadeira de balanço balançava sozinha. Desde muito que sua
dona não sentava mais ali. Havia morrido naquele mesmo local e enquanto contava
os pingos de chuva que caiam lá fora. Durante o clarão do dia a cadeira
permanecia estática, parada, mas quando a noite caía então ela começava a se
embalar lentamente. E sozinha ainda vai embalando o mistério da vida e da
morte.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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