Rangel Alves da Costa*
Creio que principalmente nas terras
nordestinas, onde a religiosidade se mostra pujante em tudo, até mesmo em pé de
balcão de botequim há santo padroeiro. Não se conhece o nome nem o mistério que
o envolve, mas a verdade é que há um santo guarnecendo todo pé de balcão. Não
apenas ali faz moradia como se aproveita da situação para usufruir da bebida
sorvida pelo sertanejo que chega pedindo relepada da boa. E não há um só
sujeito que, antes de virar a dose, primeiro não ofereça um tiquinho ao santo
que vive de boca aberta à espera da água que desce ardente. Não se sabe como o
tal santo suporta beber tanto, virar dose após dose, e muitas vezes mais de uma
no mesmo instante. Tanto faz que seja aguardente, cachaça de engenho, limpinha
da boa, mistura de raiz de pau, angico, umburana, quixabeira, aroeira,
cravinho, ou tantas quantas desçam da prateleira ao copo, mas a dose do santo é
a primeira a ser lembrada. Mas dizem que para o santo suportar o pé de balcão
só mesmo vivendo de fogo, em constante estado de embriaguez. E assim porque o
que vem lá de cima não é apenas cachaça, mas também cusparada. Ademais, só
mesmo estando pra lá de tungado para suportar ladainha de bêbado. Contudo,
outros afirmam que é pelo simples prazer da branquinha que o santo faz do pé de
balcão o seu céu. E quando o bebedor se esquece de sua dose, então será certeza
de se embebedar, cair pelas calçadas ou errar o caminho de casa. Mas se é
bondoso com a boca sedenta, mesmo que se embebede o sujeito não deixará de
encontrar a porta da moradia. O que acontece quando chega assim, todo torto e
enviesado, e quando a mulher taca o cabo de vassoura no lombo do cabra, aí já
não é mais com o padroeiro do botequim.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário