Rangel Alves da Costa*
O menino estava triste. E numa tristeza de
fazer qualquer um entristecer também. Menino, menino, tão novo o menino,
certamente que não haveria motivo para tanto entristecimento. Será que havia
perdido seu cavalo de pau, sua bola de gude, seu papagaio de sarapantar pelo
ar, sua bola murcha, seu boi de barro, seu carrinho de madeira? Ou será que
assim entristecia porque sua avó lhe puxou a orelha ou sua mãe proibiu de tomar
banho nas correntezas do riachinho? Ninguém sabe. Só mesmo o menino para
responder. No alto da pedra, parecendo não querer conversa com ninguém, mesmo
assim seu avô arriscou foi se achegando para saber o que se passava naquela
cabecinha. Por que está assim tão longe desse mundo, meu netinho, perguntou. E
ajuntou: menino de sua idade é pra duas coisas, estudar e brincar, e hoje não
vi você nem chupar uma manga no pé. O que está acontecendo, meu neto netinho? O
que ouviu como resposta quase lhe faz voar, ou arribar chão abaixo. É verdade
que vou crescer mesmo vô, que foi deixar de ser menino e ficar gente grande? E
prosseguiu: Pois num quero crescer não. O quero é ficar é continuar assim mesmo
como sou, apenas menino. E menino descalço, correndo, correndo, zanzando no
meio do mundo. Deus me livre de crescer. Todo mundo que cresceu só anda triste,
com raiva do mundo, como se tivesse fugindo de tudo. Por isso que quero
continuar menino. E fico triste só em pensar um dia deixar no esquecimento a
minha felicidade.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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